Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Caixa de Pandora e o Lago Ness

Quinta, 3 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
Fica difícil dormir com um barulho desses. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, diz que o suposto esquema de propina no Distrito Federal, descoberto pela Operação Caixa de Pandora, poderá contribuir para polarizar as eleições de 2010.
 Padilha explica que diante das coisas que estão saindo da Caixa de Pandora, o debate nas eleições ficará ainda mais centrado em quais são os dois projetos – do governo e da oposição – para o país. Uma polarização entre o que é o governo Lula, sua continuidade e seus instrumentos de combate à corrupção (?) e a comparação com governos anteriores. Creio que ele se referia apenas aos dois mandatos de FHC, pois se estendesse a comparação para os governos de Sarney e de Collor estaria atingindo dois diletos aliados e, se atacasse Itamar Franco, estaria dando murro em ponta de faca.
    Bem, isso foi o que disse o ministro Padilha. Mas o que diz o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, reconduzido há poucos dias à presidência de seu partido com o apoio do presidente da República?
    Berzoini promete que o PT vai realizar uma campanha eleitoral de “alto nível”, como se combater corrupção – desde que esta exista, não seja apenas maledicência – baixasse o nível da campanha. Não baixa não. Se a corrupção existe e sobre ela silenciam os que têm o dever de levantar o tema, isso aí, sim, baixa o nível de uma campanha eleitoral, pois se estará varrendo o lixo para baixo do tapete, de modo a escondê-lo dos eleitores, que pagam a conta.
    O presidente do PT anuncia que seu partido não vai “politizar” o caso do “Mensalão do DEM”, mas a mim isto não me sensibiliza, não me parece generosidade nenhuma. O DEM tem seu problema, por enquanto, pelo menos, restrito à sua seção do Distrito Federal. O PSDB tem o seu, restrito à campanha passada do senador, ex-governador e ex-presidente nacional do partido, Eduardo Azevedo. Mas é um caso restrito à seção de Minas Gerais. O Grande Mensalão, aquele que abalou o país, derrubou auxiliares presidenciais tão importantes quanto José Dirceu e José Gushiken e o presidente nacional do PT, José Genoíno, foi o do PT – “O maior espetáculo da Terra” quando se trata de Mensalão, sugiro que assim se considere.
    Então, fica muito fácil entender porque o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, promete que seu partido não vai politizar o “Mensalão do DEM” – se fizer isto, estará apenas dando o sinal para a oposição ir buscar o monstro da lagoa, talvez parente próximo daquele que até hoje ninguém viu inteiro e vive mergulhado nas profundezas do Lago Ness, possivelmente uma Caixa de Pandora mais assustadora e surpreendente do que essa que foi agora aberta no Distrito Federal.
    O que não entendi bem foi a disposição do ministro Padilha de sugerir que o caso Arruda pode contribuir para polarizar as eleições com as comparações relacionadas com corrupção. A não ser que esteja ele, esperto, contando com uma amnésia geral do eleitorado, ressalvada apenas a memória de curto prazo – o que bem pode acontecer.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano