Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Educação e libertação

Sexta, 4 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
  O governador Jaques Wagner presidiu ontem uma solenidade que marcou a alfabetização de 289 mil pessoas, integrantes da segunda turma do Programa Todos Pela Alfabetização – Topa. Somando com os da primeira turma, foram alfabetizadas 460 mil pessoas. Até o final do ano que vem, a meta é atingir um milhão de pessoas, o que reduziria os analfabetos baianos, que em 2007 eram dois milhões, à metade.
    Supõe-se que os alfabetizados tenham aprendido a ler e escrever dentro de limites bem limitados, já que o curso é de oito meses. Trata-se mesmo de erradicar o analfabetismo, não de dar uma instrução além disso. E espera-se que o ensinado não seja apenas o suficiente para assinar o próprio nome ou ler o que está escrito no espaço usado para anunciar o destino dos ônibus que se costuma utilizar com mais frequência.
    Não estou, de nenhuma maneira, fazendo observações, sérias ou irônicas, para tentar reduzir o merecimento desse programa do governo Jaques Wagner, o Topa. Aliás, o governador incluiu a Educação entre as prioridades de sua administração, juntamente com a Saúde, o Emprego e Renda e finalmente (incluída mais tarde) a Segurança.
    Algumas coisas importantes estão sendo feitas, embora fosse desejável, claro, que muito mais estivesse acontecendo. Estamos vendo na televisão, nesses dias, a propaganda oficial – incluindo imagens que mostram a magnitude da obra – da construção do Hospital do Subúrbio.
Importante que seja maior do que o HGE, como ressalta a peça publicitária, embora se deva considerar que o HGE foi construído já há bastante tempo e de lá para cá, além das insuficiências do sistema de saúde que tanto o Hospital Roberto Santos quanto o HGE não conseguiram suprir, a cidade cresceu muito – há muito mais gente precisando dos serviços hospitalares públicos em hospitais bem equipados, supridos e dotados de pessoal capaz e suficiente.
Na área da prioridade do Emprego e Renda, as coisas iam bem, principalmente pela boa fase que pareciam viver a economia global e a economia brasileira. Ainda assim, talvez haja ocorrido pouca agressividade na disputa por investimentos com alguns outros Estados do Nordeste e perdemos (só um exame realmente profundo e cuidadoso poderia dizer se tínhamos ou não condições de ganhar) alguns deles.
Quanto à área da Segurança Pública, “prefiro não comentar”. Explicando melhor: prefiro não comentar agora, por falta de assunto, salvo a constatação de que está piorando sempre. Mas, quem sabe, em 31 de dezembro de 2010 este cenário dantesco já haja mudado. Acredito em milagres.
O nosso tema é, porém, a alfabetização. O governador disse ontem uma verdade quando está em causa a educação: antigos governantes mantinham o povo sem ela para escravizá-lo. Mas aí cabe o acréscimo ou esclarecimento: a simples alfabetização melhora algumas coisas, mas não liberta. Ela não tem esta força. A educação tem, quase sempre. Mas, ainda assim, às vezes falha. Sua ausência, no entanto, é quase infalível para escravizar.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano