Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O decreto do Imperador

Quarta, 9 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
Soube pela televisão, no fim de semana, em um programa que foi dedicado à alimentação no Japão, o Globo Repórter. Um imperador japonês, considerando que as terras agricultáveis do país são muito restritas e que a pecuária exige grande quantidade de terras para produzir vegetais destinados à alimentação de animais para o abate, editou um decreto proibindo a pecuária no seu país.
O decreto vigorou durante 1.200 anos. Isso levou os japoneses, que moram em ilhas, a se dedicarem a duas soluções: a pesca, para substituir a pecuária proibida e a preparação de alimentos extremamente variados e sofisticados a partir de vegetais.
Com a comida saudável, pobre em gorduras saturadas, que resultou do decreto daquele antigo imperador e mais alguns hábitos e truques do estilo de vida oriental, a população japonesa é a que tem hoje a maior expectativa de vida em todo o planeta. E o menor índice de obesidade, desde que não se inclua no cotejo as populações de certos países, principalmente da África subsaariana, nos quais as pessoas não têm para comer nem carnes, nem vegetais, nem nada.
Poderiam alimentar-se de luz, se ensinassem, mas como “a ciência” torce o nariz bufando preconceitos ao invés de investigar cientificamente os fatos que se apresentam, essas populações ficam sem esta fonte de calorias e matéria prima para nutrientes.
Uma freira, Teresa Newman, passou anos e anos levando uma vida normal em um convento, na Europa. Não comia nada, só respirava. Tudo muito bem documentado. Milagre, diz a Igreja Católica, que já a beatificou. Que nada!..., diz a Ciência. Ou melhor, não diz nada e não disse nada enquanto a freira estava viva e saudável. Esse é um daqueles fatos que para a Ciência, a academia, não existem e pronto. Eles são “não fatos”, à maneira das “não pessoas” do romance 1984, de George Orwell. Não existem porque não se encaixam nos paradigmas estabelecidos. E mudar paradigmas é desarrumar tudo, é revolução. Neste caso, não imagino outra mais profunda – comida de graça. No entanto, há alguns casos famosos e a estimativa de que mais de cinco mil pessoas se alimentam apenas de luz, hoje, no mundo.
Mas, voltando aos japoneses, além das poucas terras agricultáveis e do decreto do imperador lhes haver dado vida saudável e longevidade, a alimentação japonesa contribui para não acelerar o efeito estufa, ao contrário do que acontece, por exemplo, no Brasil e tantos outros países. É que os seres do reino animal têm o hábito de produzir e expelir gases institucionais e isto significa liberar metano na atmosfera. Uma determinada quantidade de metano é 20 a 30 vezes mais eficaz na produção do efeito estufa do que a mesma quantidade de CO2. E a pecuária é estruturada nos ruminantes, criados intensivamente e que, devido às suas peculiaridades digestivas, produzem e expelem uma quantidade muito maior de metano do que os outros animais, a exemplo do homem. Além disso, cada animal de abate retira de cinco a sete kcal de sua alimentação vegetal para oferecer a seu comensal humano um kcal. Imenso desperdício.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano