Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Sobre diferenciais

Sábado, 12 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
Além do governador do DF, José Roberto Arruda, ex-DEM, e pessoas ligadas a ele, alguém está indignado com os flagras produzidos pela Operação Caixa de Pandora.
E não é o Democratas. Este partido já tirou rapidamente seu cavalo da chuva. Marcou para quinta passada uma reunião em que ouviria a defesa do governador Arruda e já ontem se reuniria novamente para expulsá-lo.
Arruda preferiu não ir à Executiva Nacional fazer sua defesa. Sabia que a expulsão era inevitável e, para evitar o vexame, pelo menos este, praticou o harakiri, que foi o seu desligamento, anunciado em entrevista coletiva com a imprensa, na quinta-feira, quando não admitiu perguntas.
O harakiri de Arruda tem um diferencial em relação ao haraquiri japonês. Este é praticado quando alguém, sentindo-se atingido pela desonra, enfia a faca na barriga (a dor é quase insuportável e suportada apenas porque, quando o japonês a sente, a faca já entrou rasgando tudo e não tem mais jeito mesmo). Com o sangue, a dor e a vida, o autor do harakiri japonês tenta lavar a desonra e, assim, presumo, ser um espírito honrado.
O harakiri de Arruda também foi doloroso. Mas não teve o sentido de lavar a desonra e restaurar a honra. Ao se desligar do DEM na quinta-feira para evitar a expulsão no dia seguinte, ele o fez porque a ministra Carmen Lúcia, do STF, negou o pedido para anular o processo de expulsão, feito por Arruda sob a alegação de que seu partido não cumprira as regras do processo de expulsão. Arruda queria tempo, negado.
Então cancelou sua filiação, antecipando-se à expulsão. Saindo, ficou sem partido e como não dispõe mais do prazo de um ano para se filiar a outra legenda e concorrer às eleições de 2010, não as disputará. Resta-lhe, querendo, uma fácil eleição para a presidência da Associação Brasiliense dos Distribuidores de Panettones. Mas garantiu que prefere cumprir seu mandato de governador até o fim. Se deixarem, claro. Muito provável que consiga.
Mas a Operação Caixa de Pandora, que revelou um mensalão regional envolvendo a liderança do DEM no Distrito Federal, apresenta um outro diferencial muito importante. O DEM expulsaria o único governador que elegera, em todo o país, em 2006, se ele não cancelasse sua filiação à legenda na véspera. Bem diferente do Mensalão, aquele com inicial maiúscula e de âmbito nacional, patrocinado pelo PT com a participação de alguns partidos ou lideranças de partidos aliados. Os partidos não reagiram, salvo para defender seus mensaleiros, que ocupavam vários escalões – especialmente os mais altos. Não houve harakiri.
Apenas algumas pessoas mergulharam prudentemente, mas agora a candidata Dilma Rousseff deixa clara sua opinião de que é hora dos mensaleiros petistas voltarem à tona. Esse é o grande diferencial entre o mensalão de Arruda e o Mensalão do PT. Ah, só para registrar: cinco ou seis militantes do PSol carregavam, quinta-feira, no Eixo Monumental, em Brasília, uma faixa com a inscrição “Nem mensalão do Lula, nem mensalão do Arruda”. Foram agredidos fisicamente por um grupo bem maior de militantes do PT.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano
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Observação do blog Gama Livre: clique aqui e veja duas fotos e um vídeo da agressão de petistas a militantes do Psol, agressão a que se referiu o colunista da Tribuna da Bahia no último parágrafo do seu texto.