Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Três pontos fracos

Terça, 22 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
Dados da pesquisa Datafolha que não constaram da divulgação feita no domingo vieram a público, ontem, por intermédio do jornalista Gilberto Dimenstein, da Folha online. Ele destaca a avaliação ruim, dada pelos entrevistados, ao setor de saúde. Para 24 por cento deles, é a saúde “a área mais vulnerável da gestão Lula”, seguida pela violência, setor em que o desempenho do governo foi condenado por 15 por cento dos entrevistados e, em terceiro lugar, nesta lista negra, está o combate à corrupção.
    Este último ponto mostra que os eleitores e a sociedade não se deixaram sensibilizar muito por operações pirotécnicas da Polícia Federal. Talvez hajam até percebido o triste fim dado na PF ao delegado Protógenes Queiroz, afastado da presidência do inquérito que envolveu o banqueiro Daniel Dantas, o mega-investidor Naji Nahas e o ex-prefeito paulista Celso Pita, morto há poucos dias.
Protógenes atualmente está em outra, em busca de um mandato no Congresso pelo PC do B, um partido aliado do governo que o pôs para escanteio. E diz que poderia aceitar ser secretário de Esportes deste mesmo governo. Durma o entrevistado na pesquisa com um barulho destes. E durma também ao som da charanga do PT, sob a maestra Dilma Rousseff, executando o convite para reabilitar plenamente (praticamente reabilitados eles já estão) os petistas do Mensalão.
Mas isto é “apenas” o terceiro item da lista negra. O segundo é a questão da violência e da criminalidade que a gera. O governo Lula criou o Pronasci, mas o Pronasci não criou até agora quase nada, ressalvada a propaganda em torno do próprio programa, uma maneira de parecer que está cumprindo sua obrigação, sem cumprir. A criminalidade cresce rapidamente no país.
Apesar da enormidade desses dois problemas – a violência e a corrupção – o ponto mais grave é a saúde, segundo a pesquisa. Em outras palavras, o SUS. Não é de admirar. Há dinheiro para quase tudo (para um reajuste digno nas aposentadorias, não há, nem para corrigir a tabela do Imposto de Renda) ou pelo menos parece, ante certos gastos escandalosos e políticas estranhas e custosas, mas para a saúde só é possível aumentar o desembolso do Tesouro se for criado um novo imposto para substituir a provisória e extinta CPMF. Chantagem.
    No domingo, num desses programas populares de televisão, vi uma mulher chorando. Problemas nos olhos, com descolamento de retina em ambos, risco iminente de cegueira total, precisando operá-los a laser imediatamente. Pedia ajuda. Precisava de R$ 10 mil para a cirurgia, “porque o SUS não paga essa operação”. Ah, o SUS também não paga o stent com rapamicina, droga que reduz fortemente o risco de reentupimento (os médicos dizem reestenose) nas artérias do coração em que a prótese é feita. Paga somente o stent “convencional”, que custa cerca de um terço do preço e aumenta (aí não sei quantas vezes) o risco de reestenose e, eventualmente, morte da pessoa. Em síntese: o SUS, “um sistema de saúde quase perfeito”, segundo o presidente Lula, mata por dinheiro.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.