Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Caiado quer intervenção

Sexta, 22 de janeiro de 2010
Por Ivan de Carvalho
Quando decidiu iniciar uma transformação que começou pela mudança de nome e sigla – de Partido da Frente Liberal e PFL para Democratas e DEM – esse protagonista da política brasileira pareceu estar levando a coisa a sério. A decisão seguiu-se a uma derrota eleitoral notória em âmbito nacional e implicava uma transformação para recuperar a viabilidade política e eleitoral.

Permita-me o leitor um parêntesis para explicar o pernóstico (no caso, eu acho) uso do vocábulo protagonista. É porque está na moda. Grande parte da mídia aderiu. Aliás, vale assinalar que a mídia, sob o aspecto a que me refiro, tem duas vertentes: a que usa linguagem própria, isto é, a linguagem própria das pessoas que falam normalmente o nosso idioma, e a vertente verde-amarela, não por ser mais brasileira que a outra, mas por agir como papagaio da linguagem alheia.

Ora – segue o parêntesis não aparente –, faz algum tempo e intensificou-se de uns meses para cá essa coisa do pessoal do PT, adjacências e outras “esquerdas” protagonizar até o cansaço a cada frase. É protagonista prá cá, protagonismo prá lá, não menos de quatro em cada três palavras que dizem em discursos ou declarações (na linguagem corrente o vício é menos brutal) variam de protagonista a protagonismo. E uma boa (boa?) parte da mídia, principalmente escrita (impressa ou eletrônica) está papagaiando essa erupção idiomática.

Bem, voltando ao Democratas, vinha mudando discretamente, mas com uma certa firmeza, sob a orientação do senador Bornhausen, que por causa da idade e da longa exposição retirou-se da ribalta – daí a presidência nacional do DEM com Rodrigo Maia.

O plano de longo prazo estava em curso quando desabou sobre a estratégia democrata o escândalo que atingiu o único governador democrata em todo o país, José Roberto Arruda e a seção democrata do Distrito Federal. Atingiu também a base parlamentar do governo Arruda na Câmara Legislativa (a Assembleia do DF) e envolveu o vice-governador Paulo Otávio.

Ciente de que seria expulso do DEM pela Executiva Nacional numa sexta-feira, Arruda pediu na quinta-feira seu desligamento do partido. Continua governador, mas quanto a isso o DEM não pode fazer nada. Pode, no entanto, cortar relações com o governador e seu governo, pode investigar e eventualmente expulsar o vice-governador Paulo Otávio. E a seção do DEM no Distrito Federal pode romper com Arruda. No entanto, continua apoiando-o. E esta é uma situação que frustra a estratégia de construção de uma imagem ética para o Democratas, em âmbito nacional.

É por isto que o líder do Democratas na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado, decidiu ingressar na Executiva Nacional do partido com um pedido de dissolução do diretório do DEM no DF. A decisão de Caiado foi uma reação à decisão do diretório distrital do DEM, reunido na manhã de ontem, de manter o apoio a Arruda e seu governo. “Não há como expor o partido a essa situação”, disse Caiado.

E não há mesmo. Ao contrário do que se dizia, Arruda atrai mau olhado.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.

Ivan de Carvalho é jornalista baiano.