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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Novo governador do DF fez doações a distritais que o elegeram

Sexta, 23 de abril de 2010
Leandro Kleber e Amanda Costa
Do Contas Abertas
O novo governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), eleito por deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal no último sábado (17), fez doações na campanha de 2006 a parlamentares que o elegeram para ocupar o comando da capital federal. Segundo dados das prestações de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosso, que concorria a uma vaga de deputado federal naquele ano, declarou ter doado pelo menos R$ 398,8 mil a candidatos distritais. Três beneficiados, Benício Tavares (PMDB), Eurides Brito (PMDB) e Odilon Aires (PMDB), são citados por Durval Barbosa como supostos envolvidos no esquema de pagamento de propinas revelado pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, conhecido como mensalão do DEM.

Tavares, que recebeu R$ 220,3 mil (67% de sua arrecadação total), e Eurides, beneficiada com R$ 60 mil (29% da sua receita), votaram em Rosso. Já a distrital Jaqueline Roriz (PMN), que optou por Wilson Lima (PR) na eleição para governador “tampão” até dezembro, também foi beneficiada por Rosso em 2006. A filha do ex-governador Joaquim Roriz (ex-PMDB) recebeu R$ 38,5 mil, valor que representou 10% da receita de sua campanha.

A contribuição aos parlamentares foi incluída nas despesas da campanha de Rosso a deputado federal. Ele não se elegeu, mas ficou entre os suplentes da sigla na Câmara dos Deputados. Segundo a contabilidade oficial registrada no TSE, Rogério Rosso arrecadou quase R$ 1,5 milhão e gastou praticamente a mesma quantia.

Para o cientista político Antonio Flávio Testa, a informação de que Rosso doou recursos a deputados que votaram nele mostra que o mesmo grupo político, na prática, continua no comando do GDF. Segundo ele, a diferença agora é que há outros rostos, de perfil aparentemente mais técnico. “Mas a forma de fazer política não mudou. Basta olharmos a migração intensa de votos, pretensamente para Wilson Lima [ex-governador e candidato ao cargo], que foram destinados, em poucas horas, para Rosso. Como se consegue um milagre desses em política, e na boca da urna? Difícil responder, não?”, questiona.

Testa acredita que o governo de Rosso será a continuidade da gestão Arruda. “Ele já declarou isso e é esperto o suficiente para tirar proveito das inaugurações de muitas obras, regadas a muita publicidade”, diz. O cientista político disse ainda que até as eleições deste ano haverá “muitas mudanças e tensões políticas”.

O governador do Distrito Federal afirmou, por meio de sua assessoria, que as doações em 2006 foram feitas para distritais do mesmo partido. Segundo ele, é natural que candidatos a cargos federais apóiem os que competem em um cenário menos expressivo. “Quanto a um eventual conflito de interesses, entre os que receberam doações e votaram em Rosso, o governador acredita não haver nenhum problema. A prioridade da nossa gestão é fazer nomeações técnicas para compor a equipe de governo”, disse a assessoria.

 A distrital Eurides Brito afirmou à reportagem que não há qualquer problema quanto ao recebimento da doação em 2006 e a votação em Rosso neste ano. “Não há nenhum impedimento legal. Além disso, em 2006, havia um apoio simultâneo entre as nossas candidaturas. Éramos da mesma chapa”, afirmou. O distrital Benício Tavares não retornou os contatos feitos pela reportagem.
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