Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ainda sobre pesquisa

Quarta, 19 da maio de 2010 
Por Ivan de Carvalho
Permitam-me os leitores que pelo segundo dia consecutivo não analise coisa alguma nem opine sobre qualquer assunto, limitando-me a assinalar alguns pontos interessantes ou curiosos. Fiz isso ontem sobre o tema das pesquisas eleitorais. Ainda tratarei delas hoje, bem como de fatos a elas relacionados.

1. Nove entre dez estrelas do cinema usam sabonetes Lever. (Isso é  só para lembrar aquele antigo slogan dos sabonetes Lever, hoje Lux, mesmo no Brasil, pois nos Estados Unidos já eram Lux quando aqui eram Lever). Pois bem, nove entre dez políticos baianos rejeitavam ontem o percentual de nove por cento de intenções de voto atribuído pela pesquisa Vox Populi ao candidato do PMDB a governador, deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima.

2. Estavam convencidos de que, neste caso, “vox populi” nada tinha a ver com “vox Dei”. Nove políticos entre dez supunham que Geddel já terá atingido 12 por cento das intenções de voto. É que entre a pesquisa anterior do Instituto Vox Populi e a mais recente ocorreu na campanha de Geddel um fato de primeira ordem – a aliança com o senador César Borges e o partido que ele preside na Bahia, o PR. Na pesquisa anterior Geddel teve oito por cento de intenções de voto, agora teve nove por cento. Subiu um ponto só? Não daria para acreditar, até porque ele deixou o cargo de ministro, está na Bahia trabalhando a campanha em tempo integral e não perdeu o Ministério da Integração Nacional, onde o presidente Lula colocou João Santana, que foi indicado por Geddel para o cargo e era o secretário geral do ministério.

3. Então, qual a razão de tanta modéstia na pontuação do candidato? Um eleitorado que reage adoidado aos fatos políticos, um autêntico erro técnico na pesquisa, um “erro” tendente a levar as eleições a uma polarização entre o governador Jaques Wagner e o ex-governador Paulo Souto, um “erro” tendente a enfraquecer politicamente o PMDB da Bahia e seu candidato junto ao governo de Lula? Eu não sei. O que sei é que esse negócio do candidato do PMDB só ter subido um ponto entre as duas últimas pesquisas Vox Populi não se enquadra nos parâmetros da lógica política.

4. Para encerrar, um outro aspecto: o PT deu uma sorte danada em ter realizado seu congresso estadual antes da divulgação da pesquisa Vox Populi. Já imaginou o leitor que tristeza, que baixo astral se instalaria no congresso petista se a pesquisa saísse às vésperas dele? Pesquisa dizendo que, ao contrário da amostragem anterior, pela mais recente o governador não se reelegeria no primeiro turno, que suas intenções de voto baixaram em três pontos percentuais e as de Paulo Souto subiram três pontos e a eleição iria para o segundo turno graças à entrada na liça do deputado Luiz Bassuma, que disputa o governo pelo Partido Verde.
Que sorte teve o PT!
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.