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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Confirmação aparente

Segunda, 24 de maio de 2010
Por Ivan de Carvalho
    À primeira vista, a pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, colocando José Serra e Dilma Rousseff em um perfeito empate – cada um deles com 37 por cento das intenções de voto – confirma as pesquisas feitas pouco antes, uma delas pelo Instituto Sensus e a outra pelo Instituto Vox Populi. Essas duas pesquisas colocaram o tucano e a petista em situação de “empate técnico”, o que representou um avanço de Rousseff, que antes vinha sempre em desvantagem.
    Mas a pesquisa Datafolha foi ainda melhor para a candidata petista do que as dos outros dois institutos citados. Pois, pela primeira vez, uma pesquisa coloca a candidata governista em vantagem num eventual segundo turno. Todas as pesquisas anteriores de todas as entidades que as fizeram davam vantagem ao oposicionista José Serra, do PSDB, no segundo turno. E vantagem confortável.
    Bem, mas então como é que o Datafolha, com seu empate de 37 contra 37 por cento das intenções de voto, confirma apenas aparentemente os resultados do Sensus e do Vox Populi, que oportunamente abordei aqui, pondo-os sob suspeita?
    Esta é uma resposta que não me parece difícil e que, aliás, foi dada, de um modo indireto, mas muito claro, por um dirigente do Instituto Datafolha. Disse ele que entre a pesquisa Datafolha de abril e a de maio, a que aqui nos referimos, houve apenas um fato importante capaz de alavancar as intenções de voto em Dilma Rousseff: a propaganda partidária do PT na televisão (e no rádio, que o dirigente do Datafolha não citou). O Sensus e o Datafolha fizeram suas pesquisas antes dessa propaganda.
    Essa propaganda gratuita, por imposição da legislação eleitoral, foi feita em um programa de dez minutos e em uma série de inserções na programação normal da televisão e do rádio. Devia ser apenas propaganda partidária, estando vedada por lei propaganda eleitoral.
Mas o PT entendeu, segundo reclamou a oposição, que “o crime compensa” – neste caso, como em alguns outros, como o dos dólares na cueca e o da violação ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo na tentativa de salvar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que, aliás, segundo notícias de ontem, deverá ser o chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, se ela for eleita presidente. E o PT gastou todo o tempo fazendo, sob o comando de Lula e Dilma, a propaganda eleitoral proibida.
Foi exatamente, segundo não só o dirigente do Datafolha como os políticos em geral, notadamente os da oposição (entre os governistas, muitos tentam alinhavar outras razões, evidentemente), essa propaganda ilegal que valeu o empate a Dilma, um empate que não existia antes de tal propaganda e que, portanto, pode-se supor que não deveria existir nos resultados do Sensus e do Vox Populi. Tão gentis para Dilma que negligenciaram as intenções de voto da outra mulher, Marina Silva, maltratada com sete e com nove por cento, e vingada pelo Datafolha, que lhe atribuiu 12 por cento.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.