Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 26 de junho de 2010

Crises na oposição

Sábado, 26 de junho de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    Não bastasse ao candidato tucano José Serra, da aliança PSDB-DEM-PTB-PPS, ter sido ultrapassado pela candidata governista Dilma Rousseff pela primeira vez, na recente pesquisa eleitoral realizada pelo Ibope, lavrava ontem nesse aglomerado partidário oposicionista uma crise que precisava ser debelada com muita rapidez, sob pena de produzir estragos importantes.
    Quanto à pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, colocando a petista Dilma Rousseff cinco pontos percentuais à frente de José Serra nas intenções de voto, parece ter sido feita e, mais, divulgada no momento em que o conhecimento dos resultados mais favoreceria a candidata do governo, pois é o momento em que as últimas e importantes decisões estão sendo tomadas antes que para isto se esgote o prazo.
    A título de exemplo, vale citar o caso do PP. É um partido com tempo importante de propaganda eleitoral gratuita a agregar à candidatura presidencial a que se aliasse. Bem, o PP, que participa do governo Lula, hesitava entre duas posições. Uma delas, a de ingressar na coligação que sustenta o tucano José Serra e indicar seu presidente nacional, deputado Francisco Dornelles (sobrinho de Tancredo Neves), para candidato a vice-presidente. A alternativa pepista era a neutralidade: não apoiar, como partido, qualquer candidato a presidente e liberar seus filiados a dar apoio a quem cada um quisesse. Logo depois de conhecidos os resultados da pesquisa, as coisas mudaram. Foi eliminada a alternativa de participação na coligação liderada pelo PSDB com indicação do candidato a vice na chapa de Serra. O PP não ingressará também, legalmente, na aliança governista, mas resolveu reunir sua direção e emitir uma declaração de apoio à petista Rousseff, mandando assim a neutralidade para o inferno.
    Se a pesquisa abriu recentemente uma crise no principal setor da oposição, a escolha do vice de Serra abriu outra crise. O senador Álvaro Dias, do PSDB do Paraná, confirmou sua “convocação” para ser o companheiro de chapa de Serra. Disse que aceitou a proposta “com muita honra”. E o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, escreveu no seu twitter que o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, lhe havia confirmado que o vice de Serra está escolhido e é Álvaro Dias. No fim do dia, o próprio presidente tucano, que estava fazendo as articulações, confirmou que indicara Álvaro Dias: “A gente apresentou o nome dele à aliança”. Serra não quis falar do assunto e ainda falou de conversas em curso, salvo para dizer que Guerra estava conversando com os aliados (sobre Álvaro Dias).
    Resolvido? Nada disso. O DEM vinha dizendo, com insistência, nos últimos dias – principalmente por seu presidente nacional e seu líder na Câmara, respectivamente deputados Rodrigo Maia e Paulo Bornhausen – que abrira mão de indicar o candidato a vice apenas em favor do tucano Aécio Neves. Como este não quis, o DEM fazia questão de exigir o cumprimento do acordo que lhe dá o direito de, como principal partido aliado, indicar o vice de Serra. No começo da noite de ontem, lavrava a crise. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, disse que seu partido não aceita um tucano como vice de Serra, mas somente um democrata. O ex-senador Jorge Bornhausen, ex-presidente do DEM e com muita influência no partido, consultado sobre a indicação de Álvaro Dias na noite de quinta-feira, desaconselhou e alertou para descontentamentos que a não inclusão de um democrata na chapa causaria no DEM, que fará sua convenção para o dia 30 – para decidir sabendo de tudo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.