Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Estratégia e prática

Sexta, 18 de junho de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    No âmbito federal, o planejamento estratégico da candidatura Dilma Rousseff, feito pelo presidente Lula e o comando do PT, era a de conseguir um cenário de eleição plebiscitária, com duas candidaturas expressivas apenas: a governista, representada pela petista Dilma Rousseff, e a oposicionista, do tucano paulista José Serra (já que este não queria abrir mão para o tucano mineiro Aécio Neves).
    Essa dicotomia eleitoral desejada pelo governo seria prejudicada com quaisquer outras candidaturas expressivas que surgissem. Claro que aqui não estou falando do PSOL com Plínio de Arruda Sampaio (um nome reipeitável, mas sem respaldo). PSTU e assemelhados contam ainda menos.
    Mas a dicotomia estava sendo quebrada por Ciro Gomes, do PSB e o presidente Lula moveu-se para sufocar tal ameaça à sua estratégia, mesmo que junto sufocasse também o amigo fiel. E o fez de uma maneira cruel, evitando bater de frente, atacando como uma serpente, pelos calcanhares – Lula convenceu o partido de Ciro a não lançar Ciro e a apoiar Dilma.
Para conseguir isto, fez o PT apoiar a reeleição do socialista Eduardo Campos, presidente do PSB, a governador de Pernambuco. Campos, todo feliz, retribuiu o favor cortando a cabeça, perdão, a candidatura de Ciro. O presidente Lula foi tão sofisticado na degola indireta que acabou conseguindo, numa troca de apoio, atrair até o irmão de Ciro, Cid Gomes, governador do Ceará. Ainda não se sabe o que Ciro está achando disto, mas o senador tucano pelo Ceará, Tasso Jereissati, já rompeu sua aliança com Cid Gomes, mesmo sabendo que isso torna difícil sua reeleição para o Senado.
O que não estava previsto na estratégia de Lula, no início, era a candidatura da ex-ministra petista Marina Silva a presidente, quanto já ex-ministra e pelo PV. E a esta altura, Marina é o único fator capaz de quebrar a dicotomia da campanha e da eleição de 3 de outubro, pois a de 31 de outubro (segundo turno, se houver) será necessariamente dicotômica. Mas diferente.
Marina também é a principal razão para que se espere uma eleição em dois turnos, o que será – independente de quem tenha mais votos no primeiro e vença no segundo – melhor para o país e sua educação democrática, bem como para seu futuro político imediato, do que uma decisão final em 3 de outubro, dispensado o segundo turno.
Bem, e na Bahia? Aqui, o segundo turno é muito mais provável que uma decisão final em 3 de outubro. Há, por enquanto, como ocorre na área federal, três candidaturas com expressão política. As de Jaques Wagner, Paulo Souto e Geddel Vieira Lima, no momento em terceiro lugar nas pesquisas. Há quase que um consenso nos meios políticos baianos de que Geddel deverá crescer mais (para governador) do que Marina Silva (para presidente). Ele ficará muito mais perto do eleitorado baiano do que Marina do eleitorado brasileiro. Tem tempo equivalente (não igual) ao de Wagner e Souto na propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão e uma estrutura político-partidária importante.
Isto já induz ao raciocínio de que haverá segundo turno na Bahia. E há ainda algo a acrescentar – o candidato do PV a governador, deputado Luiz Bassuma, numa chapa que inclui o deputado Edson Duarte como candidato a senador. Eles darão palanque a Marina na Bahia. E, com a campanha, apesar do pouco tempo de que dispõe para propaganda eleitoral no rádio e TV, Bassuma pode chegar aí a uns sete, oito por cento. Isto seria garantia absoluta de segundo turno.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.