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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Senado e discrepância no Datafolha

Quinta, 29 de julho de 2010 
Por Ivan de Carvalho
A primeira divulgação da mais recente pesquisa Datafolha sobre o Senado na Bahia até que funcionou como uma dose moderada de calmante no PSB e mais especialmente na campanha da deputada e candidata a senadora Lídice da Mata.
Afinal, Lídice e sua campanha sabem dos riscos de serem eleitos para as duas cadeiras baianas a vagar no Senado o já senador César Borges, presidente do PR da Bahia e coligado com o PMDB e vários outros partidos, e o petista Walter Pinheiro, pessoa que vem sendo prestigiada fortemente pelo governador, objetivamente, desde a escolha do candidato petista a prefeito de Salvador, em 2008.
Um fator da conjuntura é a suposta, mas de modo nenhum descartável e até natural tendência petista de, ficando a coisa ruça, priorizar, na campanha, o candidato do PT ao Senado, deixando mais ou menos por conta própria a candidata socialista e ex-prefeita de Salvador.
Outro é a dificuldade, identificada por muitos políticos e analistas, da eleição de dois candidatos “esquerdistas” para as duas vagas em disputa no Senado. A idéia subjacente, aí, é a de que a chamada “esquerda” não seria tão forte assim na Bahia.
Finalmente, um terceiro fator da conjuntura considerada é a liderança isolada do senador César Borges nas pesquisas eleitorais, inclusive na última sondagem do Datafolha. Claro que a campanha está apenas começando, mas isso já é outra história. Na fotografia do momento, César Borges tem 34 por cento das intenções de voto e é seguido de longe por Lídice e Pinheiro, nesta ordem.
Mas a primeira publicação dos resultados da pesquisa Datafolha (não confundir com os do Vox Populi, que até estão sofrendo contestações ostensivas no meio político) pelo jornal Folha de S. Paulo atribuía 26 por cento das intenções de voto a Lídice e 20 por cento a Pinheiro. Bons índices, especialmente para Lídice, porque não muito distante de Borges e seis pontos à frente de Pinheiro.
No entanto, verificou-se (o primeiro alerta foi dado pelo site Política Livre) que o relatório do Datafolha continha números diferentes dos publicados pelo jornal paulista do mesmo grupo. O Datafolha já explicou satisfatoriamente a discrepância, historiando como e porque ela ocorreu e certificando como corretos os números do seu relatório e não os inicialmente publicados pelo jornal (já houve uma republicação corretiva).
Nos números verdadeiramente apurados pela pesquisa, César Borges obtivera os mesmos 34 por cento das intenções de voto, mas Lídice da Mata não tinha 26 e sim 22. Assim, fica mais distante de Borges e Pinheiro, com 18 por cento, já lhe pisa os calcanhares.
Lídice da Mata tem novos motivos para estar eleitoralmente aflita, ela que recentemente esteve extremamente descontente com a montagem da chapa majoritária em que está inserida (e na qual esperava que só houvesse um candidato de “esquerda” ao Senado, ela própria, o que levaria o PT, em termos de Senado, a necessariamente apostar tudo em sua candidatura).
Recomenda-se um novo e caprichado “sacudimento” no comitê central da campanha, em reforço ao antes já realizado por poderosa Mãe de Santo e que, parece, aliviou, mas não chegou a resolver o problema.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.