Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mutabilidade na sucessão

Terça, 10 de agosto de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    Quando ficaram definidas as três principais candidaturas a governador – Jaques Wagner, do PT, para a reeleição, Paulo Souto, do DEM e Geddel Vieira Lima, do PMDB – uma idéia consensual entre os políticos e na mídia passou a ser enunciada como uma espécie de mantra, embora não estejamos na Índia e adjacências: “Vai haver segundo turno”. Com a variante mais enfática e até mais freqüente: “O segundo turno está garantido”.
    Bem, houve de então para cá uma mutação no cenário político baiano, mais especificamente no que diz respeito às eleições de governador. Aquele mantra já não é válido. Ante os resultados de pesquisas eleitorais, das quais a última, do Ibope, foi a mais incisiva (até convém aguardar outras, especialmente o próximo Datafolha, para conferir), o mantra foi substituído entre os políticos por uma pergunta: haverá segundo turno?
    A resposta é difícil, exceto para videntes ou profetas. Como não sou nem uma coisa nem outra, embora tenha certeza da existência do dom da vidência e da realidade dos profetas, não darei aqui a resposta. Apenas estou reconhecendo uma mudança profunda no cenário, que retira a suposta certeza inicial (da qual eu próprio participava) de que haveria segundo turno na Bahia este ano.
    A mudança, como, aliás, já afirmei ontem neste espaço, deveu-se basicamente ao forte investimento político (financeiro, forçoso é admitir, também) que o governo estadual fez em propaganda, movimento que começou para valer no ano passado, ganhando intensidade no segundo semestre e teve um enorme impulso no primeiro semestre deste ano, encerrando-se apenas quando não mais era possível prosseguir, ante a proibição drástica da legislação eleitoral. Enquanto isso, Souto e Geddel tinham a liberdade de se expressar amplamente, mas não os meios.
    Aliás, chega a ser espantosa a influência que uma propaganda massiva e bem planejada consegue ter sobre a sociedade baiana (e brasileira) ou a maior parte dela em um relativamente curto período, um período de pouco mais de um ano. Esta é uma das muitas e boas razões que recomendam exorcizar a tese (e a realidade presente) do Estado forte. Este, (in)devidamente aparelhado, sem ter forças que possam neutralizá-lo em caso de necessidade, dominará uma sociedade como a brasileira com extrema facilidade, utilizando-se intensamente da propaganda. E então, “ai Deus, saudade”.
    Voltando à questão inicial, a mutação ocorrida no processo sucessório não se deveu somente à propaganda, que foi o elemento básico, mas não único. O governo entregou obras prontas, algumas importantes, o governador usou seu inegável carisma no contato amiudado com o eleitorado e alguns programas e obras foram lançados ou começaram a sair do papel. E a candidata governista a presidente passou à frente de José Serra no conjunto das pesquisas eleitorais, fato relevante.
    Mas como houve razões que levaram à mutação que acabei de registrar, outras poderão produzir uma realidade continuamente mutável até as eleições. A propaganda do governo já foi silenciada pela lei. A partir do dia 17 de agosto, Wagner volta a ter propaganda (agora declaradamente eleitoral) no rádio e televisão. No entanto, mais importante é que seus concorrentes, que não tiveram esta oportunidade ainda, passarão a ter também.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.