Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Não aceite gato por lebre

Segunda, 16 de agosto de 2010
 Por Ivan de Carvalho
Começa amanhã o horário gratuito de propaganda eleitoral no rádio e televisão, acompanhado também pelas inserções também gratuitas de propaganda eleitoral, ao longo do dia.
A gratuidade aí não é uma palavra que mostre toda a realidade, pois, no final da história, quem paga a conta é o contribuinte. Esse tempo dedicado à propaganda eleitoral só é gratuito para os candidatos e os partidos. O Estado brasileiro compensa as emissoras com um benefício fiscal e elas, assim, não estão dando de graça o seu tempo.
Indireta, mas muito concretamente, o contribuinte brasileiro – a sociedade – é que sofre o ônus. Presumem o legislador, em particular e o Estado, em geral, que seja justo o contribuinte pagar, pois, como eleitor, ele se “beneficia” da propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão, dela absorvendo informações que o ajudarão a escolher os candidatos que, entenderia ele, devem governar seu país, seu estado ou seu município.
Lamentavelmente, os partidos e candidatos – com as raras e honrosas exceções de praxe – não costumam utilizar os programas e inserções gratuitos para informar os eleitores sobre os seus reais propósitos e condições de governar, no Executivo ou no Legislativo.
Preferem estudar, através de refinadas pesquisas de opinião dos eleitores, o que estes querem ouvir para exatamente isto lhes falar. Saber o que pode atrair o apoio de segmentos da sociedade – jovens, mulheres, trabalhadores, empresários, evangélicos, católicos, aposentados, idosos, jovens, homossexuais, deficientes (desculpem, pessoas com necessidades especiais, pois a cada dia mudam a maneira politicamente correta de denominá-los) para assumirem posições e comportamentos simpáticos, para entrarem em aparente sintonia com tais segmentos.
Depois das eleições, se eleitos e após empossados, então os eleitores menos desatentos verão a grande distância que na grande maioria dos casos separa o que se diz nas campanhas eleitorais do que se faz nos governos, seja no Poder Executivo, seja no Poder Legislativo. Um dia, Fernando Henrique Cardoso candidatou-se a presidente da República e usou a imagem da mão humana com os seus cinco dedos para destacar as que seriam as cinco prioridades de seu governo.
Segurança pública era uma delas. E tudo que ele fez nos seus oito anos a este respeito, enquanto a violência crescia e espantava o país, foi declarar algumas vezes que a situação chegara “aos limites do intolerável” ou “aos limites do inaceitável”. Muito otimismo, pois já passara desses limites.
Ruim a “atuação” de FHC nesse aspecto? Pois Lula fez ainda pior. Pois, como FHC, nada realizou, na prática, pela segurança pública (não me venham com essa conversa besta de tecnoburocrata falar do esquálido Pronasci) e continuou assim mesmo quando a violência e a criminalidade organizada ultrapassaram, por quilômetros e léguas, os limites entre o tolerável e o intolerável, entre o aceitável e o inaceitável. Com FHC já haviam ultrapassado, sim, mas nos oito anos de Lula só houve piora, com exceção, talvez, de São Paulo, mas não por ação federal.
Assim, veja e ouça a propaganda eleitoral “gratuita”, mas fique muito atento para que não lhe vendam gato por lebre.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.