Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 7 de agosto de 2010

O debate sob controle

Sábado, 7 de agosto de 2010 
Por Ivan de Carvalho
     Já está analisado sob todos os ângulos e por quase todos os envolvidos (candidatos, partidos, mídia) o debate entre os principais quatro candidatos a presidente da República (estou incluindo na relação Plínio de Arruda Sampaio, do Psol, não pelas propostas que fez e considero, no geral, inadequadas, mas pelo tento marcado ao conseguir inserir-se nos debates, quebrando o oligopólio do trio de candidatos formado por José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva).

Resta uma avaliação dos debates quanto a seus efeitos imediatos e mediatos sobre o eleitorado. Os efeitos imediatos poderão ser, talvez, medidos pelos institutos de pesquisa de opinião pública. Os mediatos ficam por conta de uma análise pelos políticos, especialistas em campanha eleitoral e pela mídia, mas trata-se, neste último caso, de análise possível apenas com o passar do tempo.

Sobre o debate de quinta-feira na Rede Bandeirantes e a respeito de outros debates – parece que, com os candidatos a presidente, mais quatro já estão marcados – tenho, no momento, só uma coisa a reafirmar: o horário em que são realizados é absolutamente impróprio para maiores que trabalharam durante o dia e têm de acordar cedo no dia seguinte para voltar ao trabalho.

O Ibope comprovou a impropriedade do horário de 22 horas, caso do debate realizado na Band. No pico, a audiência na Grande São Paulo atingiu cinco a seis por cento, caindo com o passar do tempo para menos de três por cento. Então, o que vale aí não é o debate, propriamente, mas a repercussão do debate. Um pouco, na transmissão boca-a-boca ou via Internet de impressões dos poucos eleitores que viram para os muitos que não viram. E muito, nos noticiários e nas análises da mídia ou divulgadas por ela e na manipulação que os marqueteiros de cada campanha cuidarão de fazer.

Mas convém notar que os telespectadores que se mantiveram acordados no tempo do debate preferiram, em imensa maioria, ver um jogo de futebol ao ataque macio dos candidatos a presidente, uns aos outros. Nos Estados Unidos, não é bem assim. Os eleitores vêem, em massa, os debates entre os candidatos a presidente. E como os debates não são promovidos por uma rede ou outra de televisão, mas por uma entidade independente, a transmissão se faz por um pool de emissoras, melhor dizendo, de redes de televisão.

A experiência de debate organizado por um pool de emissoras já foi realizada no Brasil certa vez e com pleno êxito, isto é, com enorme audiência. Mas talvez por isto mesmo a idéia morreu, porque sempre há redes que “se acham” e sempre há candidatos que querem mais fugir ao debate do que se expor. E preferem, como já escrevi ontem, a segurança dos programas de propaganda eleitoral gratuita e a proteção de seus marqueteiros para fazer sem riscos sua propaganda, não raro – vamos ser mais francos, com muita freqüência – enganosa.

Uma impressão pessoal sobre o debate na Band: achei morno, três dos quatro candidatos (a exceção foi Plínio de Arruda Sampaio, que não tinha nada a perder, só a ganhar) procurando a todo o tempo não incorrer em riscos e, apesar da abordagem superficial de temas altamente relevantes – saúde, segurança, educação, meio ambiente – evitando outros, a exemplo da descriminalização do aborto, que poderiam incendiar o circo.

- - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.