Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O tempo e o PT

Terça, 24 de agosto de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    Com a candidata do PT a presidente abrindo, no Datafolha – para confirmar os demais institutos que vêm divulgando pesquisas eleitorais – uma vantagem de 17 pontos em relação ao principal candidato da oposição, José Serra, da coligação liderada pelo PSDB e na qual estão ainda o DEM, o PTB e o PPS, o país parece em marcha acelerada para somar aos oito anos de Lula pelo menos quatro de Dilma Rousseff e assim cravar pelo menos 12 anos de governo federal comandado pelo PT

    Note-se que na área atualmente de oposição não existem alternativas eleitorais reais fora da declinante ou decadente candidatura de José Serra. Marina Silva, do PT, não tem como vencer a disputa, nem mesmo como chegar ao segundo turno, e Plínio de Arruda Sampaio, do Psol, está aí só para marcar posição. Isto para não falar nas candidaturas ridículas, sob o aspecto da representatividade e até mesmo sob outros aspectos.

    O cenário delineado é o de um mínimo de 12 anos de governo comandado pelo PT – os oito de Lula e quatro de Dilma. Mas, pelo que está dando para sentir na campanha eleitoral, a primeira presidente do Brasil terá uma oposição frágil nas áreas partidária e parlamentar. E assim há que considerar desde já como não apenas possível, mas até provável – apesar da distância no tempo, que traz seus imprevistos – a hipótese de reeleição de Dilma ou do retorno de Lula em 2014.

    Então seriam, ao invés dos oito já para se completarem ou dos 12 quando incluído na conta o eventual mandato de Dilma, 16 anos. Ora, isso é tempo suficiente para, sob uma oposição frágil como a que parece que surgirá das urnas de outubro, o poderoso Executivo federal, sob comando petista, consolidar seu domínio sobre o Congresso Nacional, indicar magistrados em grande número para a composição dos tribunais superiores e especialmente o Supremo Tribunal Federal, que dá, afinal, a última palavra sobre o que estabelecem a Constituição e as leis.

    Na Bahia, tivemos uma experiência parecida, evidentemente que transposta para um cenário estadual. Antonio Carlos Magalhães exerceu seu primeiro mandato de governador a partir de 1971, mas antes governou a capital baiana por três anos. Então veio Roberto Santos, e logo romperam, mas ACM retornou para o segundo mandato no início de 1979 e ficou até o final de 1982. Sucedeu-lhe um então aliado, integrante de seu grupo político, João Durval. Veio em seguida um adversário, Waldir Pires, que cumpriu meio mandato e deu a outra metade para outro adversário de ACM na época, Nilo Coelho. Mas, mesmo quando seu grupo não deteve o governo estadual, ACM conseguiu dispor de instrumentos de poder suficientes para influir fortemente na Bahia. 

    E voltou novamente governador empossado em 1º de janeiro de 1991. Começou então um reinado de seu grupo, que só acabou com a posse de Jaques Wagner, do PT, em 1º de janeiro de 2006. Foram 16 anos de carlismo no Executivo estadual. Antes de uma fase final de declínio, chegou ao auge, controlando o Executivo, o Legislativo, o órgão máximo do Judiciário, “governando” o setor empresarial e exercendo forte poder sobre os municípios. “Eu sou o poder. Quando eu ando, o poder anda. Quando eu durmo, o poder dorme”, disse uma vez. Versão baiana do “L’État ce moi” atribuído a Luís XIV.

    Teremos a versão brasileira, “O Estado é o PT”?
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.