Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Oposição é essencial

Sexta, 20 de agosto de 2010
Por Ivan de Carvalho

    Numa democracia é fundamental que exista oposição efetiva, eficaz. Do contrário, acabará não havendo democracia.
  
No Brasil, uma oposição suficientemente ampla, consolidada e firme, requisitos de uma oposição eficaz, está faltando desde o começo do primeiro mandato do presidente Lula. Esta não é a única, mas é um das razões fundamentais de estarem ele e seu governo com índices de popularidade e de aprovação tão maravilhosos.

    E é também a razão de estar o poste que o presidente escolheu para sucedê-lo, Dilma Ducheff, ora, Rousseff, chegando bem perto deste desígnio, com índices de intenção de voto que tornam um inferno a campanha do seu principal adversário, o tucano José Serra.

Pelo menos na última pesquisa do generoso Instituto Vox Populi, Dilma estaria pronta a ganhar o mandato de presidente sem necessidade de segundo turno, enquanto pelo sisudo Datafolha bastaria que conquistasse três pontos a mais para alcançar esse sonhado objetivo.

Ontem, no seu twitter pessoal, o presidente nacional do PTB, o político que levou a legenda (contra a opinião da grande maioria de sua bancada federal) a integrar a coligação que dá sustentação a Serra, a reclamar e cobrar deste e de sua campanha uma postura oposicionista. “Serra é responsável pela nossa dispersão. Nunca nos reuniu.” – ataca Jefferson, o autor da denúncia que desencadeou o Escândalo do Mensalão, durante o primeiro governo de Lula. E Manda um recado para o doce (com Lula) governador tucano de Minas Gerais: “Aécio: se o Lula derrotar o Anastasia (governador e candidato à reeleição com o apoio de Aécio), pois ele não é confrontado, derrotará você. Derrotará a oposição.”

Adverte ainda Jefferson: “Essa história do empresariado paulista fazer Dilma & Geraldo pode dar Dilma e Mercadante. Ninguém se une contra o Lula. Ele esmagará todos.” E prossegue: “Em São Paulo, o Lula desembarcará para destruir a fortaleza tucana. Está na cara. E ninguém atira no Lula, o bonzinho.” E mais: “O legado de Lula é dele. Não adianta os marqueteiros orientarem Serra para ser o sucessor de Lula. Ele fez o testamento para Dilma.”

Várias outras coisas muito interessantes e sensatas escreveu Jeffersson em seu twitter, do que deu conta, com destaque, o Blog do Noblat. No entanto, a história é bem mais antiga.  Vem desde o Mensalão, que Jefferson fez explodir. Lula foi quase ao fundo do poço. O PFL, depois Democratas, queria e até tentou levar o escândalo a sério, tirar-lhe as devidas conseqüências políticas. Por muito menos, Fernando Collor, na 25ª hora, teve que renunciar para não ser condenado no processo de impeachment.

Mas uma andorinha só não faz verão. Os vários partidos médios estavam corrompidos pelo Mensalão, que o governo e o PT patrocinavam. O PFL, depois DEM, precisava da parceria do PSDB para fazer a oposição eficaz. Não teve. O PSDB, que tem mania de ser mais esperto do que o resto do mundo, achou que devia deixar Lula “sangrar” e ser um candidato totalmente anêmico à reeleição. Assim, o PSDB o venceria. Então, o PSDB recusou-se a dar o tiro de misericórdia. E foi tamponar os ferimentos. Muito piedoso.
De anteontem para cá, Serra parece estar partindo para o ataque. Mas quanto tempo perdido...
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.