Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 14 de agosto de 2010

Wagner, o alvo

Sábado, 14 de agosto de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    O que já começara a acontecer nesta primeira quinzena de agosto na campanha para governador da Bahia acentuou-se no debate da Band, na noite de quinta-feira. Não se tem aqui o propósito de reproduzir ou sintetizar o debate, pois isto já foi feito à saciedade, ontem, pela mídia eletrônica.
    O aspecto principal a ressaltar é o avanço da estratégia adotada – não importa muito se combinada ou se espontânea, fruto apenas de uma coincidência de interesse eleitoral – pelos candidatos a governador Paulo Souto e Geddel Vieira Lima, que representam, respectivamente, as coligações oposicionistas lideradas pelo PMDB e pelo DEM.
    Os resultados das pesquisas eleitorais recentes deram ao governador Jaques Wagner uma vantagem altamente expressiva em relação aos dois candidatos já citados, tendo mesmo mostrado o atual governador com mais intenções de votos que a soma de todos os demais aspirantes a morar no Palácio de Ondina.
    Isto fez cessar, nos últimos dias, as estocadas, geralmente leves, mas efetivas, que vinham trocando lideranças das coligações lideradas pelo PMDB e pelo DEM. Não adiantaria tentarem um processo de canibalização entre elas e seus candidatos a governador, pois seria um absurdo estratégico disputarem quem iria para o segundo turno, se segundo turno não houvesse.
    Assim, Paulo Souto e Geddel Vieira Lima passaram a cuidar cada um de si e “esqueceram-se” reciprocamente. Vale registrar que em matéria de críticas públicas recíprocas, Geddel vinha sendo bem mais ativo ou persistente que Souto, talvez porque este vinha (e ainda vem) apresentando uma vantagem relativa nas pesquisas eleitorais e Geddel gostaria de alcançá-lo, sem o que não poderá aspirar a ir a um eventual segundo turno. Se em algum momento da campanha o segundo turno se apresentar como praticamente assegurado, um embate entre Souto e Geddel tende a se restabelecer.
    No debate da Band, entretanto, a estratégia de não agressão recíproca que vinha sendo praticada ultimamente evoluiu para uma união (também aqui importa mais o fenômeno do que saber se foi ele combinado ou espontâneo) no ataque ao governador, pois é de interesse, tanto de Paulo Souto quanto de Geddel, desgastá-lo, já que nas pesquisas recentes aparece isolado na liderança das intenções de voto.
    Uma ou outra levíssima observação desfavorável surgida no debate da parte de Geddel contra Souto ou vice-versa não descaracteriza o fenômeno. Talvez visasse apenas a não deixá-lo demasiado ostensivo, para que a estratégia – absolutamente natural nas circunstâncias – parecesse, na medida em que fosse percebida pelos telespectadores e pela mídia, espontânea, casual, e, assim, mais eficaz.
    Além de enfrentar essa estratégia de seus dois principais concorrentes, o governador Jaques Wagner pagou ainda o preço de estar na liderança das pesquisas somado ao de ser o governador em exercício, o que o torna alvo ideal (e natural) para ataques dos concorrentes. Mesmo Luiz Bassuma, do PV e Marcos Mendes, do Psol, embora estes dois não estivessem engajados na estratégia de Geddel e Souto. Mas como são oposição, privilegiaram o governo e o governador como alvo. Para quem lutou sozinho, Wagner, na minha opinião, teve bom desempenho. Mas a desvantagem dele em debates no cenário atual é inegável e ficou óbvia.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.