Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 25 de setembro de 2010

Governismo teme abstenção

Sábado, 25 de setembro de 2010 
Por Ivan de Carvalho

    Pesquisas eleitorais voltam a apresentar, após um período de convergência de resultados, resultados divergentes. Os do Instituto Datafolha, que causaram alguma apreensão entre os governistas e estimularam moderadamente as oposições – no âmbito federal e, por exemplo, na Bahia – não têm sido “confirmados” pelo tracking Vox Populi/Band.

    Mas o impacto da pesquisa Datafolha desta semana foi grande. Um dado nacional: a diferença entre as intenções de voto na petista Dilma Rousseff e no conjunto dos demais candidatos caiu de 12 para sete pontos percentuais. Se Dilma perder mais 3,5 pontos, estes passam para o conjunto dos concorrentes, gerando um empate, e ela deixa de ter a maioria absoluta de “votos válidos”, o que empurra a decisão para o segundo turno.

    No caso da Bahia, como já mencionamos ontem neste espaço, a diferença entre o líder nas pesquisas, o governador Jaques Wagner e o conjunto dos concorrentes caiu 11 pontos. Destes, dez pontos foram o quanto desapareceu da diferença de intenções de voto entre o governador (que decresceu cinco pontos) e o ex-governador Paulo Souto (que subiu cinco).

    Bem, volto ao âmbito nacional, que nesta eleição é excepcionalmente importante, pelas características políticas da luta que se trava e cujo desfecho pode influenciar de maneira profunda – muito mais do que o governismo busca fazer parecer – o futuro do Brasil a curto, médio e talvez longo prazos.

    As oposições já estavam praticamente entregando os pontos, então veio a pesquisa Datafolha com suas consistentes surpresas. Assustaram-se os governistas, animaram-se os oposicionistas.

    Demonstração de preocupação maior do governismo com os votos está na atitude da direção nacional do PT, que entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra a lei que exige a apresentação, para votar, de um documento oficial com foto (cédula de identidade, carteira de trabalho, carteira de habilitação de motorista, carteira de reservista, passaporte).

    O PT teme que a exigência implique em aumento da abstenção nas faixas de população com renda mais baixa ou menor grau de instrução, nas quais muita gente não possui esses documentos. Como os petistas e sua candidata a presidente tem nessas faixas do eleitorado seus mais altos percentuais de intenção de voto, o PT, que quer evitar a necessidade de segundo turno nas eleições presidenciais, está correndo atrás do prejuízo.

    Um outro motivo de preocupação do governismo relacionada com a abstenção diz respeito ao fato (verificado, por exemplo, nas eleições de 2006) de que os índices mais altos de abstenção ocorrem no Norte e Nordeste, as duas regiões em que is índices de intenção de voto em Dilma Rousseff são mais altos. Em 2006, a abstenção foi de 19% no Norte, de 18 por cento no Nordeste, de 16 por cento no Sudeste e de 15 por cento no Sul.

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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.