Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A onda verde

Domingo, 26 de setembro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    Um fenômeno eleitoral e de opinião pública está em curso, quase certamente incapaz de mudar o rumo da votação de 3 de outubro para presidente da República e empurrar a decisão final para o segundo turno. Mas depois que a mais recente pesquisa Datafolha flagrou uma ascensão, no país, nos índices de intenção de voto da candidata verde Marina Silva, fatos isolados começaram a aparecer, como a confirmar a pesquisa, que, por sinal, não fora referendada pelos resultados encontrados por outros institutos importantes de sondagem de opinião pública. Se não mudar a eleição, não significará que tenha efeito político nulo no pós-eleição.

    Assim é que no Rio de Janeiro, como assinalou ontem o Blog do Noblat, o Cine Leblon estava com lotação esgotada para a sessão das 21 horas de sábado para exibição do filme Wall Street 2. Em um noticioso, exibido antes do filme, aparece Dilma Rousseff, a candidata do PT a presidente da República. “Ouve-se então uma vaia estrondosa. O Rio está marinando”, conclui o relato o jornalista Ricardo Noblat.

    Ora, o Rio frequentemente destoa do restante do Brasil em matéria eleitoral. Neste caso, no entanto, não está destoando, mas sim assimilando com bem mais ênfase do que o país em geral a “onda verde”. Na maioria do Brasil ainda se trata apenas de uma marola, mas no Rio já é uma onda.

   Isto se deve a dois fatores principais: uma parcela maior de eleitores melhor informados e mais exigentes, até um tanto sofisticados nas escolhas, além de com mentes de tendência independente (no óbvio sentido contrário a dependente); e ao fato em que o segundo candidato a governador com melhor índice nas pesquisas eleitorais, ainda que sem chance de ser eleito, é o deputado Fernando Gabeira, do PV, o partido de Marina. Gabeira apóia Marina e recebe apoio de Marina e José Serra, indo aos palanques dos dois, no Rio de Janeiro.

   O outro ponto forte da candidatura de Marina é o Distrito Federal, que forma com o Rio de Janeiro a dupla de unidades federadas mais politizadas do país (Vale ressalvar que a politização elevada no Rio diz mais respeito à capital). E no Distrito Federal, segundo pesquisa realizada pelo instituto Soma, Opinião e Mercado, divulgada ontem no site do jornalista Cláudio Humberto, Marina Silva confirma a posição de segunda colocada nas intenções de voto, com 27 por cento, já à frente de José Serra, que tem 20 e aproximando-se de Dilma Rousseff, que tem 37 por cento.

   Ricardo Pena, diretor do instituto Soma, Opinião e Mercado, destaca que no Distrito Federal Marina já supera também Dilma Rousseff nas classes A e B (eleitores de mais escolaridade e renda mais elevada) e poderá avançar e superar a candidata do PT no total do eleitorado do DF. Isto seria muito interessante para o PV, que deve sair destas eleições com um peso político bem maior do que entrou e que lhe caberá preservar e desenvolver, com independência e longe da tentação do adesismo, que pode fazê-lo desaparecer ou tornar-se mero apêndice do PT, como é hoje o PC do B.

   Mas, voltando à “onda verde”, mesmo na modalidade de marola ela já chega a muitos outros lugares do país, inclusive já havendo dado o ar (ou mar?) de sua graça na Bahia, onde os institutos de pesquisa de opinião pública insistiam em manter o deputado e candidato a governador pelo PV, o bravo Luiz Bassuma – da luta contra a liberação do massacre dos inocentes, o aborto – “sem pontuação” nas pesquisas. Mas o último Datafolha lhe atribuiu dois por cento das intenções de voto.
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   Este artigo foi publicado na Tribuna da Bahia desta segunda.
   Ivan de Carvalho é jornalista político baiano.