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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os programas se tornaram secundários

Segunda, 27 de setembro de 2010
Por Cesar Sanson
Para a Radioagência NP

Faltando pouco mais de uma semana para as eleições presidenciais, os dois principais partidos brasileiros - e que de fato estão na disputa pela cadeira presidencial - não apresentaram, até o momento, os seus programas - projetos - para o país.

Os programas se tornaram secundários, tampouco têm sido reivindicados pela sociedade e sequer pelas forças políticas que possuem tradição no debate político, como os movimentos sociais. Em outras épocas, basta lembrar aqui das eleições de 1989 – o programa era uma exigência. Em 1994, 1998 e 2002, os programas também ocupavam um lugar de destaque. Nas eleições da década de 90 e início dos anos 2000 disputadas entre o PT e o PSDB, eram comuns o acalorado debate entre o denominado projeto da 'Inserção competitiva da economia internacional (PSDB) versus o projeto intitulado 'Nacional Popular' (PT).

A importância do debate em torno de projetos pode ser avaliada por um episódio: 'A Carta ao Povo Brasileiro' - lançada em junho de 2002 - poucos meses antes das eleições que elegeu Lula presidente em sua quarta tentativa. A carta, escrita às pressas e articulada por Antônio Palocci com o apoio de José Dirceu, foi acusada de trair o programa do PT. A 'Carta', escrita a poucas mãos, passou a ser considerado o verdadeiro 'programa' do partido e não aquele debatido e aprovado pelo Diretório Nacional.

Recorde-se que anteriormente a esse episódio, os projetos, particularmente no caso do PT, reuniam intelectuais e pesquisadores, e o partido para se contrapor ao preconceito disseminado de que Lula não tinha preparo para dirigir o Brasil, afirmava que "as melhores" cabeças do país estavam com Lula e eram responsáveis pela construção de um projeto coletivo. Também no PSDB, agregavam-se jovens economistas e de outras áreas para a formulação do seu projeto.

Nas últimas eleições presidências em 2006, após um primeiro turno morno, apático e insosso em que não houve debate público de ideias, a eleição esquentou no segundo turno com o debate do tema das privatizações. O PT explorou o imaginário popular de que as privatizações realizadas no Brasil na 'Era FHC' foram pouco transparentes e teriam favorecido grupos econômicos e pessoas. Registre-se, porém que a opção em explorar esse tema não foi por uma decisão político-ideológica.  Segundo João Santana, marqueteiro de Lula à época e hoje marqueteiro de Dilma, o tema entrou no debate a partir de pesquisas qualitativas.

Alckmin à época candidato do PSDB acusou o golpe e recusou o debate ideológico.  Atitude que causou indignação da direita brasileira motivando matérias e editoriais em jornais e revistas. Para a direita, a recusa ideológica do PSDB em debater as privatizações foi considerada uma traição, logo o partido que completou a inserção do Brasil na economia internacional, atraindo o capital transnacional e o promotor da ideia de um Estado regulador liberando a exploração de serviços estratégicos - altamente rendosos - para o mercado.

Esse talvez tenha sido o último debate ideológico provocado e recusado, entre o PT e o PSDB. De lá para cá os programas perderam importância e sequer são cobrados. O debate em torno dos programas foi substituído pelo 'lulismo'. Agora, a disputa que se trava é para ver quem reúne melhores atributos para continuar o lulismo. Registre-se que até Serra deseja dar continuidade ao legado de Lula. Quem não se recorda do esforço dos marqueteiros do PSDB em 'colar' a imagem de Serra à Lula.  Nessa disputa pela herança do 'lulismo, a enorme vantagem evidentemente é de Dilma por ser a candidata do próprio Lula - um fenônemo político com antecedência histórica que se aproxima apenas a Getúlio Vargas.

Pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.
Esta
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