Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 16 de outubro de 2010

A difícil opção de Marina

Sábado, 16 de outubro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    Políticos e jornalistas políticos consideram quase uma certeza – muitos dispensam o quase – que a senadora e ex-candidata a presidente pelo PV, Marina Silva, vai declarar neutralidade entre as duas candidaturas que passaram ao segundo turno, a da petista Dilma Rousseff e a do tucano José Serra. Quase com certeza essa previsão generalizada será confirmada, acredito eu, sem dispensar o quase.
    O fato evidente é que Marina, depois de surpreender com uma votação superior a 19 por cento dos votos válidos, no primeiro turno, ficou numa sinuca de bico. Das três alternativas à sua disposição, nenhuma parece adequada a ela.
    A primeira seria apoiar a candidatura de Dilma Rousseff, do PT, partido do qual Marina decidiu sair algum tempo depois de apresentar sua demissão do cargo de ministra do Meio Ambiente do governo Lula. Marina deixou o governo por entender que havia ficado sozinha na defesa de seus planos de preservação ambiental.
    Veja o leitor como o site Greenpeace Brasil inicia a notícia da demissão da ex-ministra do Meio Ambiente: “Pressionada por setores do agronegócio, governadores de estado e políticos da bancada ruralista, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, entregou nesta terça-feira sua carta de demissão ao presidente Lula, de caráter irrevogável. Era a última pessoa no governo a defender o meio ambiente e uma política de desenvolvimento sustentável. Com sua saída, a ala do crescimento a qualquer preço, capitaneada pela ministra Dilma Rousseff, venceu o cabo-de-guerra contra aqueles que buscavam conciliar desenvolvimento com sustentabilidade”.
    É claro que o Greenpeace é parte, tem lado neste caso, mas a notícia produzida por seu site deixa claro que a grande queda de braço dentro do governo ocorreu entre Marina e – exatamente – Dilma Rousseff. Isso também aparece claramente no noticiário da época na mídia tradicional. É verdade que a hoje candidata do PT a presidente não foi a única pessoa no governo a desgostar Marina.
   O próprio presidente Lula entregou o Programa Amazônia Sustentável, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente – aos cuidados do então ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, retirando-o da esfera de autoridade de Marina Silva.
   Ora, Marina apoiar a candidatura do PT seria, por estas razões, um paradoxo.
E quanto a apoiar a candidatura José Serra, do PSDB? Bem, Serra nunca foi um ativista da preservação do meio ambiente. Agora, na campanha do segundo turno, em busca dos votos verdes, do apoio do PV e – quem sabe Deus ajuda – de Marina, Serra está mais ligado na questão ambiental e acaba de assumir compromissos objetivos com lideranças do PV, à frente Fernando Gabeira (RJ) e Fábio Feldmann (SP). Prometeu observar os dez pontos programáticos apresentados pelo partido e garantiu a colaboração tucana na votação do Código Florestal pelo Congresso Nacional.
   Os verdes pró-Serra dizem contar com 70 por cento do PV. Apesar de tudo isso, continua sendo prevista declaração pessoal de neutralidade de Marina, que disso deu sinais logo foi proclamado o resultado do primeiro turno, parecendo ter dificuldade também em apoiar a candidatura de oposição. Entre outras razões, porque o PV não estaria unido com Serra, muito menos com Dilma. Amanhã, o PV decidirá se apóia uma ou outra candidatura e tende a liberar seus diretórios estaduais para apoiarem quem quiserem.
   Mas a neutralidade de Marina é outra coisa. A um líder quase nunca a neutralidade é atitude recomendada na política, pois costuma passar a impressão de omissão e a omissão costuma esvaziar e apagar as lideranças. É uma opção que também não favorece a senadora pelo Acre.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.