Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pesquisas no dia a dia

Terça, 19 de outubro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    Há uma intensificação da freqüência de pesquisas eleitorais desde que o eleitorado decidiu que haverá segundo turno nas eleições para presidente da República e o Datafolha divulgou sua primeira sondagem desde então, revelando que a diferença de 14 pontos percentuais entre Dilma Rousseff, do PT e José Serra, do PSDB, havia desabado para oito pontos percentuais em uma semana.
    Diante disso, convenceram-se os políticos e os institutos de pesquisa que a disputa presidencial está apertadíssima, o que já seria motivo suficiente para intensificar ao máximo a freqüência das sondagens do eleitorado. Mas há um outro fator a espicaçar os institutos de pesquisa a saírem a campo para entrevistar eleitores – eles erraram pesadamente no primeiro turno e desejariam uma recuperação de sua credibilidade agora.
    Era esperada e havia sido informalmente anunciada para ontem uma pesquisa do Instituto Vox Populi, que, chegou-se a dizer, traria números capazes de levar alguma dose de tranqüilidade à campanha da petista Dilma Rousseff. A pesquisa apresentara problemas e até as 20:30 horas não havia sido divulgada. Mas vale aproveitar para três ressalvas:
1. Dos quatro principais institutos de pesquisa de opinião pública envolvidos nessas pesquisas eleitorais, a pesquisa Vox Populi realizada depois do primeiro turno das eleições foi a que apresentou uma diferença mais elevada favorecendo Dilma Rousseff em relação a José Serra – 9,1 por cento. A segunda maior diferença foi a das pesquisas da Folha de São Paulo, que deram oito pontos de vantagem a Dilma, considerados apenas os votos válidos (quanto às intenções da totalidade do eleitorado, a vantagem cai, segundo o Datafolha, para sete pontos percentuais).
2. Mesmo havendo todos os quatro institutos de pesquisa errado feio quanto aos resultados do primeiro turno – todos superestimando a provável votação de Dilma e subestimando a votação do conjunto dos demais candidatos – o Vox Populi foi o que, às vésperas das eleições de 3 de outubro, cometeu os erros mais clamorosos, seguido do Ibope, único que divulgou pesquisa de boca de urna e previu resultado contrário, por ampla diferença, ao que as urnas revelaram.
3. O Vox Populi, embora esteja divulgando as pesquisas sob contrato com a Rede Bandeirantes de Televisão e o portal de internet iG, é também o instituto oficial, sob contrato, da campanha de Dilma Rousseff. E seu diretor, Marcos Coimbra, em entrevistas anteriores ao segundo turno, analisava que a eleição da petista já no primeiro turno era uma coisa imutável. Agora, talvez tendo perdido um pouco a confiança no Vox Populi, a campanha do PT decidiu contratar um reforço, o Ibope, embora para fazer pesquisas somente no Sudeste.
   Bem, na agonia de tentar medir cada nova nuance nas intenções do eleitorado, o Sensus e o Ibope estão com pesquisas engatilhadas para divulgação esperada para amanhã. Na quinta-feira anterior à eleição do domingo da eleição – dia 31 – o Datafolha vai divulgar sua terceira pesquisa durante a campanha do segundo turno.
   Até lá, pode-se contar que também o Vox Populi, o Sensus e o Ibope também farão novas pesquisas que divulgarão (sem contar as que o Vox Populi e o Ibope fizerem para uso exclusivo da campanha de Dilma, sob encomenda, e cujos resultados são guardados em sigilo, exceto se quem encomenda tiver interesse em divulgá-los, no todo ou em parte.
   Há várias incógnitas a investigar. Só para citar algumas das mais importantes: como vai ser mesmo a abstenção, que foi alta no primeiro turno e costuma ser mais alta no segundo? Em quais regiões e em que faixas do eleitorado será maior? Votando só em um candidato ao invés de vários, como no primeiro turno, como se comportará o eleitor quanto a votos nulos e em branco por erro ou impaciência? Como se decidirá os eleitores de Marina que ainda não fizeram sua opção para o segundo turno? E quanto e como as questões de consciência e/ou de natureza religiosa influirão na decisão dos eleitores?
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.