Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 13 de novembro de 2010

O destino do DEM

Sexta, 12 de novembro de 2010 
Por Ivan de Carvalho

    Continua a movimentação em torno da possível fusão do DEM ao PMDB ou, se isto se revelar por algum motivo inviável, ao PP, que seria o Plano B dos democratas interessados na fusão.
O principal deles é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Com a derrota eleitoral e possível decadência política do tucano José Serra, seu principal suporte na aliança com o PSDB e deste partido com ele, Kassab, o prefeito vê o PSDB paulista ficar mais sob a influência de Geraldo Akckmin.
Alckmin pode ser considerado e é visto por Kassab como um adversário. Afinal, enquanto nas eleições municipais de 2008 o então governador paulista José Serra apoiava discreta, mas decididamente, a reeleição de Kassab – que fora seu vice na prefeitura e assumira quando Serra deixou o cargo para disputar o governo estadual –, Alckmin ousadamente lançou-se candidato a prefeito, contra Kassab.
Perdeu, como já perdera a eleição presidencial de 2006, disputando com Serra nos bastidores e de público o direito de ser o candidato tucano a enfrentar o presidente Lula naquela ocasião. Alckmin, então, conseguiu o que queria, ser candidato, porque Serra se convenceu de que o PSDB não venceria aquela eleição presidencial e apenas fingiu ir na bola dividida com Alckmin. Na verdade, ele queria mesmo era deixar a bola com este e ir cuidar de outros planos.
Sentindo-se órfão do PSDB, o democrata Kassab é hoje o político do DEM mais em evidência e tem lá suas pretensões de disputar o governo paulista em 2014. Mas ele não tem o controle de seu partido neste momento e, pior, dá conta o noticiário de que ele não acredita na recuperação política e eleitoral do Democratas, hoje sob a presidência do deputado fluminense Rodrigo Maia.
Imaginou-se uma fusão imediata do DEM ao PMDB (que poderia ser rebatizado de MDB, o que seria uma espécie de resgate histórico, ao menos sob o aspecto nominal). O PP, como já assinalado, seria o Plano B. Mas Kassab foi aconselhado por lideranças democratas, incluindo o presidente de honra e ex-senador Jorge Bornhausen (também já agora pouco crente numa recuperação do DEM) a ter paciência. Antes de partir para negociar a fusão seria preciso tomar o controle do partido. E Rodrigo Maia não vai entregá-lo de boa vontade. Controle que, uma vez tomado, poderia levar o grupo liderado por Kassab até a desistir da fusão, já que estaria com um partido pronto nas mãos – e um partido de porte, ainda.
Kassab e os que estão com ele decidiram esperar até três meses. Se até o fim do prazo houver fracassado a tomada do controle do partido, então voltarão, aí já para agir, à negociação de uma fusão ou, na pior das hipóteses, de dissolução, o que a todos liberaria para cada um seguir o caminho que quiser.
Essa coisa de fusão (que poderia ser, evidentemente, uma simples incorporação do DEM pelo PMDB) está aumentando a tensão entre o PMDB e o PT. Uma tensão já notória pela questão da presidência da Câmara, principalmente, além de espaços postos no Executivo. É que o PMDB, acontecendo a fusão, deixaria de ter a maior bancada na Câmara dos Deputados na próxima Legislatura e ganharia peso incontrastável em todas as situações no Congresso, além de aumentar seu poder de fogo na luta por espaços no Poder Executivo e nas empresas estatais.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.