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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Bahia no governo Dilma

    Quinta, 23 de dezembro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
Se nenhuma escolha para o primeiro escalão da equipe da presidente Dilma Rousseff aconteceu por iniciativa (indicação) do governador Jaques Wagner, pelo menos a Bahia não pode se queixar da participação que terá, ainda que, em alguns casos, os cargos não tragam ao estado vantagem alguma.

    Mas vejamos que são diversos os nomes que se podem considerar baianos – mesmo que alguns dos escolhidos não hajam nascido na Bahia, o que não faz diferença, pois o povo baiano já escolheu duas vezes seguidas um governador nascido no Rio de Janeiro. O local de nascimento não é importante e sim a ligação política ou de vida com a Bahia e o compromisso da autoridade com o estado.

    Assim, a escolha, por Dilma Rousseff, da secretária estadual Luiza Helena de Bairros, nascida no Rio Grande do Sul, para a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, pode ser considerada escolha de uma pessoa da Bahia e integrante do governo do Estado, embora não seja uma indicação do governador. A socióloga Luiza Helena está radicada na Bahia há muitos anos. Ela é uma das principais lideranças do movimento negro no Brasil. E a Bahia é o estado com mais alto percentual de população negra no país.

    Também é certamente mais um baiano na equipe de Dilma o atual ministro dos Esportes, Orlando Silva Jr, que permanecerá no cargo por indicação da direção nacional do PC do B.

    Da Bahia é também o futuro ministro do Desenvolvimento Agrário, o deputado eleito e atual secretário estadual Afonso Florence, do PT, indicado em nível nacional pela tendência petista Democracia Socialista (DS), à qual pertence também o deputado Walter Pinheiro, senador eleito pela Bahia.

    Outro baiano (nascido em Pernambuco, mas com toda sua vida política na Bahia) é o deputado Mário Negromonte, que deixa a liderança do PP na Câmara federal para, por indicação da bancada do seu partido no Congresso, assumir o importante Ministério das Cidades. Sua escolha não teve nada a ver com a vontade do governador (mas poderá lhe ser útil, já que o futuro ministro se interessará em carrear recursos para o estado em que faz política) e muito pouco a ver com a vontade de Dilma Rousseff. Foi simplesmente uma indicação do PP, que não abriu espaço para alternativas.

    Há que registrar também a permanência de Jorge Hage à frente da Controladoria Geral da União, cargo onde o deixou Waldir Pires quando dele foi deslocado para o Ministério da Defesa. Hage, que é competente, saiu-se tão bem que vai permanecer. Não faz mais política na Bahia, nem a Controladoria deve se esforçar mais ou menos em relação ao nosso estado.

   Mas Hage tem sua história ligada à Bahia, onde nasceu e de cuja capital foi prefeito nomeado – pelo então governador Roberto Santos – durante dois anos, tornando-se depois deputado estadual e, em seguida, deputado federal. Mais adiante, perdeu ao tentar se reeleger, ficou em Brasília, tornou-se juiz. Aposentou-se da magistratura e foi levado por Waldir Pires para secretário executivo da Controladoria, assumindo mais tarde o comando do órgão.

   Ainda há mais. A presidência da Petrobrás está e continuará com José Sérgio Gabrielli, que é atualmente o nome mais em evidência para representar o PT na sucessão do governador Jaques Wagner. A presidência da Petrobrás é considerada do segundo escalão, mas isso é apenas uma formalidade. Ela, sob os aspectos político e econômico, vale mais que a maioria dos cargos de ministro.

   Não se saiu tão mal a Bahia quanto alguns fazem parecer.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.