Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Bin Laden e Delúbio


Quarta, 4 de abril de 2011
Por Ivan de Carvalho
Grande parte do povo norte-americano comemorou com uma explosão de alegria, muita festa e ruidosas manifestações de rua a morte do mais famoso terrorista do mundo, Osama bin Laden, que em setembro de 2001 ordenou o ataque que atingiu o World Trade Center, o Pentágono e deveria ainda atingir pelo menos mais um alvo importante – a Casa Branca, sede do Poder Executivo ou, alternativamente, o Capitólio, sede do Poder Legislativo – nos Estados Unidos.

É evidente que a população americana poderia receber a notícia fúnebre com um sentimento de alívio ou até considerando que a justiça dos homens foi feita afinal, após dez anos de busca ao líder-fundador da organização terrorista Al-Qaeda. Mas é evidente também que a morte de uma pessoa, atingida por uma operação militar, não é o tipo de coisa que deva gerar uma explosão de alegria e de comemorações festivas.

Não tenho a menor intenção de igualar ou aproximar o personagem citado de outro, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, expulso de seu partido em 2005 como uma espécie de bode expiatório, por ter sido um dos operadores – talvez dos mais humildes ou menos importantes – do que ficou conhecido como o Escândalo do Mensalão e que resultou em cassações de mandato no Congresso, demissão no Ministério do presidente Lula, expurgo na direção do PT por ter ficado inviável não fazê-lo, além de um processo com 38 réus (inclusive Delúbio) no Supremo Tribunal Federal, respondendo a acusações por vários crimes graves.

Mas por qual razão, afinal, reunir em um só artigo as inadequadas comemorações pela morte de Osama bin Laden com Delúbio Soares, que teve sua refiliação aprovada no dia 29, sexta-feira, por 60 votos contra apenas 15, pelo Diretório Nacional do PT?

Bem, esta estranha reunião da morte do terrorista com a refiliação do ex-tesoureiro não teria sido feita se não a houvesse antecipado o secretário de Comunicação do PT, André Vargas, numa postagem no Twitter. Ele avaliou, com sentido lamuriento, que a morte de Osama bin Laden, no domingo e anunciada no início da madrugada de segunda-feira, ofuscou a refiliação de Delúbio Soares ao PT. E se queixou do Universo e suas leis, escrevendo no Twitter, sem citar nominalmente Delúbio: “Você reparou que bastou o cara se refiliar e o Bin Laden foi encontrado e morto. Repercussão mínima”.

Ora, a conclusão natural é a de que o Diretório Nacional do PT foi imprevidente, incauto e falto de iniciativa. Poderia, com alguma antecedência, ter estabelecido contato com o presidente Barack Obama, o Departamento de Estado, a Marinha americana e a CIA, solicitando que a operação contra Osama bin Laden não ocorresse domingo, fosse postergada por uns 15 dias. Para completar, o Diretório Nacional do PT obraria bem se houvesse pedido à Coroa britânica que adiasse por período semelhante o casamento do príncipe William e Kate, realizado, maldosa coincidência, exatamente no dia 29, o da refiliação de Delúbio.

Tenho a convicção de que Barack Obama e a Rainha Elizabeth II concordariam, além de Osama bin Laden, que ganharia mais 15 dias de vida. Só não sei se o príncipe e sua noiva teriam a mesma boa vontade. Mas como eles já viviam juntos há tempo, o Diretório do PT bem que poderia tentar adiar o casamento e a conseqüente lua de mel. E assim a refiliação de Delúbio teria a repercussão que o PT tanto desejava, por esquisitíssima, quase inacreditável e conhecida estratégia.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Fotos: Agência Câmara
 Delúbio e Marcos Valério, dois réus do Mensalão do PT.