Quarta, 11 de maio de 2011
Da Radioagência NP
Em todo o processo da Reforma do Código
Florestal que será aprovada nos próximos dias, o deputado Aldo Rebelo
(PCdoB) desempenhou papel decisivo como relator da alteração da
legislação. Desde o início, os ruralistas o tiveram como um importante
aliado na defesa de suas teses.
Aldo Rebelo é de uma certa esquerda que pensa da mesma forma que a
direita. O deputado comunista defende uma concepção de marxismo que se
aproxima do liberalismo da senadora Kátia Abreu (DEM) – liderança maior
dos ruralistas. O marxismo de Rebelo e o liberalismo de Kátia Abreu
bebem na mesma fonte da racionalidade produtivista que vêem a natureza
como fonte inesgotável de crescimento econômico.
Quando do primeiro parecer na Comissão especial que avaliava as
mudanças Código Florestal, os ruralistas aplaudiram Aldo Rebelo. Dezenas
de manifestantes ligados aos grandes sindicatos rurais patronais
gritaram seu nome. Depoimento do deputado Luiz Carlos Heinze (PP/RS), um
dos expoentes da bancada ruralista, direcionado a Aldo Rebelo, confirma
o reconhecimento: "Vossa excelência defende o comunismo. Eu sou de
outro espectro político, defendo o capitalismo, mas tenho que reconhecer
que fez um bom trabalho."
Numa das audiências públicas mais concorridas e tensas na discussão
sobre as alterações no Código Florestal realizada Ribeirão Preto, Aldo
Rebelo, contestando as vozes de oposição às suas propostas, afirmou que
“o ambientalismo transformou-se em uma trincheira por onde se escondem
os interesses das multinacionais e dos países ricos". Na oportunidade, o
deputado comunista foi aplaudido de pé pelo agronegócio e vaiado
intensamente pela militância do movimento social.
O parlamentar do PCdoB chegou afirmar que a agricultura não tem
relação com as mudanças climáticas. Segundo ele, as emissões de CO2 “não
tem nada a ver com a agricultura do país. O que tem a ver é com
queimada. Eu não sei onde é que a agricultura entra nisso”, disse o
deputado revelando ignorância.
A proposta que o Rebelo encampou para mexer no Código Florestal foi a
proposta do agronegócio. Essa tese ficou ainda mais evidente na medida
em que o relatório com as mudanças no Código foi elaborado com a
participação de uma consultora jurídica oficial da frente ruralista do
Congresso Nacional. A advogada Samanta Piñeda recebeu R$ 10 mil pela
"consultoria", pagos com dinheiro da verba indenizatória de Rebelo e do
presidente da comissão especial, Moacir Micheletto (PMDB-PR), um dos
expoentes da bancada do agronegócio.
O triste papel a que vem se prestando o deputado Aldo Rebelo nada tem
de ingenuidade. A sua convicção de reformar o Código deve-se a uma
visão conservadora, atrasada e tributária da sociedade industrial de que
os recursos naturais são um entrave para o desenvolvimento do país. Por
outro lado, alia à sua convicção ideológica ultrapassada as vantagens
financeiras como se pode perceber nos recursos que recebe do capital do
agronegócio para suas campanhas eleitorais. O parlamentar comunista
junta suas convicções à expertise político-financeira.
Cesar Sanson é pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.