Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Unidade da oposição

Segunda, 29 de agosto de 2011
Por Ivan de Carvalho

No fim de semana a pretendida unidade nas eleições de 2012 para prefeito de Salvador foi tema de declarações dos principais partidos de oposição ao governo estadual – o PMDB, o DEM e o PSDB, aos quais talvez se possa acrescentar o PR, presidido na Bahia pelo ex-senador e ex-governador César Borges e que esteve na oposição nas eleições estaduais de 2010.

Até porque não parece haver espaço para o PR no lado governista, ressalvada, claro, a improvável hipótese de ocorrer uma daquelas guinadas espetaculares, quase diria estupefacientes, a que às vezes levam as articulações políticas.

Mas César Borges tem se mantido calado sobre o tema da sucessão municipal, talvez para não criar dificuldades em nível nacional, mas certamente para não embaraçar o deputado Maurício Trindade, que se coloca como candidato da legenda à prefeitura e em nenhum momento foi desautorizado em sua atitude. Há que dar tempo a César Borges, a Maurício Trindade e à legenda deles.

Quanto aos outros três partidos citados, as declarações, no fim de semana, de Geddel Vieira Lima, principal líder do PMDB na Bahia, Antonio Imbassahy, presidente estadual do PSDB e José Carlos Aleluia, presidente estadual do Democratas, deixam claro que há uma compreensão consolidada de que para disputar a prefeitura com chances expressivas de vitória as oposições precisam unir-se em torno de uma candidatura.
Não podem se dispersar no primeiro turno, na presunção de que uma união na rápida campanha para o segundo turno seria suficiente. “A necessidade é o nosso paradigma. É o que nos une”. A declaração é do ex-deputado Aleluia, presidente DEM, e sintetiza a compreensão da conjuntura política.

Esta conjuntura – e a história político-eleitoral recente não deixa margem a dúvida – mostra que as oposições terão de enfrentar, além das máquinas partidárias da base do governo estadual, três máquinas estatais que têm a capacidade de exercer forte influência no curso da campanha. São, evidentemente, as máquinas federal, estadual e municipal.

As oposições vão torcer para que a base do governo não consiga apresentar-se unida para o primeiro turno e atualmente ela não está unida. Haverá dificuldades para se chegar à unidade, pois vários partidos da base acenam com candidaturas próprias e algumas delas buscam atender a interesses de sobrevivência partidária, mas o governador Jaques Wagner e o PT vão fazer (já estão fazendo) todo o esforço possível para que haja a unidade, desde que em torno do candidato a prefeito do PT, pois desta condição o PT não abre mão. Se a base governista se unir, seu candidato entrará muito forte na campanha e, se encontrar uma oposição enfraquecida pela desunião, haverá nocaute.

A compreensão deste quadro é que está levando as oposições a avançarem na articulação da unidade em torno de um candidato, como ressaltaram no fim de semana, além de Aleluia, Imbassahy e Geddel Vieira Lima. Os três nomes disponíveis estão aí – ACM Neto, do Democratas, Imbassahy, do PSDB e o radialista e ex-prefeito Mário Kertész, que não está filiado a nenhum partido, mas que já integrou o PMDB e voltaria a esta legenda, se a opção de unidade oposicionista for por lançá-lo candidato e pesquisas eleitorais indicarem boa posição. Eventualmente, o deputado Maurício Trindade, do Partido da República, poderia ser incluído na lista, para exame e articulações.

Não é fácil a escolha do nome. Se fosse, a unidade já estaria consumada.
- - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.