Sexta, 21 de outubro de 2011
Do Estadão
Investigação policial revela que dinheiro saiu de conta de empresa que emitiria nota fiscal
Felipe Recondo
Investigação da Polícia Civil, incluída no inquérito
aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ), revela que a propina de R$
256 mil que teria sido entregue a Agnelo Queiroz (PT), governador do
Distrito Federal e ex-ministro do Esporte quando era filiado ao PC do B,
foi de fato sacada de uma das contas indicadas pelo autor das
acusações, Geraldo Nascimento de Andrade.
Os dados e os depoimentos, somados às conversas telefônicas
grampeadas com autorização judicial, levaram a polícia a suspeitar do
envolvimento direto de Agnelo no desvio de recursos do programa Segundo
Tempo.
Ao Ministério Público Federal, o delegado responsável pelas
investigações, Giancarlo Zuliani Junior, sugeriu a quebra do sigilo do
telefone usado por Agnelo e análise dos dados das antenas da operadora
de telefonia celular. Assim, seria possível dizer se Agnelo conversou
com integrantes do esquema no dia em que o dinheiro teria sido entregue.
Ao requerer à Justiça Federal o encaminhamento das investigações
para o STJ, em razão dos indícios contra Agnelo, que tem foro
privilegiado, o procurador da República José Diógenes Teixeira já
indicava que as quebras de sigilo podem ser requisitadas.
Os R$ 256 mil que a testemunha disse terem sido pagos a
Agnelo foram sacados da conta da empresa Infinita Comércio e Serviços de
Móveis Ltda. em 7 e 8 de agosto de 2007. A Infinita é uma das empresas
que teria fornecido notas fiscais falsas para encobrir o desvio de
verba. Conforme depoimento de Nascimento, o dinheiro foi entregue à
noite no estacionamento de uma concessionária em Sobradinho.
Nascimento relatou ter seguido de carro com Eduardo Pereira
Tomaz, assessor de João Dias nos projetos do Segundo Tempo, para o
estacionamento. Pouco depois do horário marcado, um Honda Civic preto
estacionou ao lado do carro em que estava. Eduardo teria entregue a
mochila com o dinheiro. Os R$ 256 mil teriam sido desviados de um dos
convênios firmados pelo Ministério do Esporte e assinado pelo então
secretário executivo e atual ministro Orlando Silva.
Aviso. Em uma das gravações, Ana Paula
Oliveira de Faria, mulher de João Dias, policial dono da Federação
Brasiliense de Kung Fu (Febrak), liga para Agnelo para avisar que o
marido estava sendo preso. Ana Paula relatava a uma secretária de Agnelo
que o marido, assim que foi preso, pediu que ela o avisasse.
“O Agnelo...ele...ele tem que saber disso. Eu só queria que
você conversasse com o Agnelo, porque assim, o João pediu”, disse Ana
Paula. “Tá bom, Ana Paula, eu vou passar o número dele e peço para o
Agnelo ligar, tá?”, respondeu a secretária.
Na quarta-feira, quando divulgada a abertura de inquérito
contra Agnelo, a Secretaria de Comunicação do DF divulgou nota afirmando
que a existência da investigação não é suficiente para “firmar
premissa” de que Agnelo “praticou ato reprovável legal e eticamente”.
“Há manifesta impropriedade na tentativa de formar juízo de valor
aligeirado sobre a idoneidade pessoal ou legal de Agnelo Queiroz, com
base em informações incompletas e descontextualizadas, principalmente
porque a Justiça, único Poder constitucional para exercer a dicção de
culpar ou inculpar os cidadãos, em momento algum o fez.”