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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Análise preliminar

Sexta, 23 de dezembro de 2011 
Por Ivan de Carvalho
Em uma análise “pelo menos preliminar” do quadro político baiano, um político peemedebista que não pretende ser candidato a mandato algum em 2012 nem em 2014, faz a previsão de que a primeira dessas eleições será decidida em Salvador com um segundo turno disputado entre o pemedebista Mário Kertész, representando as oposições ao governo estadual e o deputado Nelson Pelegrino, representando o PT e os partidos que estão e se mantiverem na base política do governo Jaques Wagner.

            Que o petista Pelegrino vai disputar as eleições para a sucessão do prefeito João Henrique, hoje no PP, todo mundo já sabe. E que ele tem muito amplas possibilidades de classificar-se para o praticamente certo segundo turno é inegável, sempre com a ressalva de que cálculos políticos, por mais seguros que pareçam, não gozam de isenção de falhas.

            De repente, diriam os adversários de futuros imutáveis, a candidata comunista Alice Portugal, do PC do B, quem sabe até ajudada pela comoção provocada no mundo pelo choreio das choreanas ante o impensável passamento de Kim Jong-il, a “Mais Alta Encarnação do Amor Revolucionário Companheiro”, ganha impulso e se classifica na vaga reservada à “base aliada” no segundo turno? Nesse caso, Pelegrino sobraria.

            Mas essa teoria pode ser ilusória, pois a “Mais Alta Encarnação do Amor Revolucionário Companheiro” tem a palavra “companheiro” e esta é quase um monopólio do PT, algo contabilizado no patrimônio imaterial do partido. De modo que a “Mais Alta Encarnação do Amor Revolucionário Companheiro” poderia ser capitalizada, agora que desencarnou e não pode reclamar, pelo petista Pelegrino, caso o apraza (pessoalmente, não acredito muito que o companheiro baiano reivindique de herança a aura política do companheiro choreano).

            Também os cálculos de futuro político sem isenção de falhas podem admitir, não só Alice, como outros, a exemplo do deputado e secretário municipal de Governo João Leão, que se proclamou candidato pelo PP em entrevista exclusiva concedida esta semana à Tribuna da Bahia. Com o óbvio apoio, embora não declarado por não haver chegado a hora, do prefeito João Henrique.

            Mas, e Mário Kertész, radialista e ex-prefeito por seis anos ou pouco mais? Porque ele, ao invés dos deputados ACM Neto, do DEM, no momento o primeiro colocado nas pesquisas eleitorais, ou Antonio Imbassahy, o segundo colocado, competente ex-prefeito por oito anos?

            Bem, como já insisti neste espaço, para a oposição ir unida às urnas, ajustes abrangendo as eleições de 2012 e 2014 terão de ser feitos, como declara ACM Neto, com o silêncio de Imbassahy e a expressa discordância de Geddel Vieira Lima, sob a alegação de que são dois momentos e cenários diferentes, cada um com suas próprias circunstâncias. Isso, aliás, é óbvio, tanto que não se chegará a ajuste algum se o que se buscar não forem ajustes ajustáveis às circunstâncias de 2014.

            Volto àquele peemedebista que só é candidato a fazer uma previsão “pelo menos preliminar”. Ele observa que ACM Neto “vive um bom momento em Brasília, onde está sendo a voz da oposição na Câmara federal”. Esta circunstância lhe tem, inclusive, proporcionado presença constante na mídia nacional. Se for candidato a prefeito perde isto e se eventualmente perder a eleição, será a segunda derrota consecutiva para mandato majoritário (prefeito), o que pode prejudicar seus planos para 2014.

            Mário Kertész? “É um profissional. Profissional na política, como na administração. Saberá conversar com todos os setores da sociedade. E a idade (67 anos) ajuda. Por causa dela, não assusta ninguém que tenha importantes pretensões futuras”. Isso elimina um dos focos principais de resistência a aspirantes a candidato. E se Kertész for candidato de uma coalizão das oposições, deverá estar no segundo turno, raciocina o analista do partido dele. 

            E como fica Imbassahy? Ah, bem, aí interromperam a conversa. Ele fica para outra vez.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.