Quinta, 15 de dezembro de 2011
Com o foco no capital e no quanto de dinheiro vai circular neste
período, os preparativos para este evento exigem algumas políticas
públicas prioritárias, em certas capitais, em parceria com o capital
(inter)nacional e colocam o orçamento público brasileiro em função da
realização deste espetáculo.
Algumas destas políticas são:
Desapropriação e desterritorialização de comunidades urbanas
periféricas, cujo sentido histórico do enraizamento de suas vidas nas
cidades, foi ocupar os terrenos baldios como tentativa de inserção no
processo industrial que se abria nos anos 70´s e 80´s no Brasil.
Limpeza social com tolerância zero para a informalidade de
trabalhadores que, não tendo outra ocupação formal, deverão, segundo os
ideólogos burgueses, ser credenciados para vender qualquer mercadoria,
com vistas à sua sobrevivência. Para isto, parte do recurso deverá ser
utilizado para a ampliação/construção de pre(sí)dios, espaços concretos
que servirão de abrigo para migrantes e brasileiros (i)legais que firam,
em suas estéticas e comportamentos, a ordem do progresso dos jogos.
Caça ao narcotráfico como o mal terrorista a ser combatido e
sirva, ao mesmo tempo, de espelho para o mundo sobre o projeto de
reurbanização em que as periferias, “limpas”, sirvam de turismo
tropical, ecológico e humano, e sejam fotografadas como o retrato da
dignidade da pobreza no Brasil.
Reconfiguração do sistema de logística de transporte urbano, para
acomodar, na aparência, sujeitos de várias partes do mundo e do Brasil,
com vistas a mostrar a expressiva qualidade de vida em que vivem milhões
de brasileiros abrigados no interior da 7ª. Nação em PIB do mundo.
Boom propagandístico de cervejas e todos os demais bens de
consumo complementares, em especial a imagem da mulher brasileira, que
configurarão como aparência vital do gozo, próprios da luta pelo
primeiro lugar no campeonato mundial das fantasias.
Estas prioridades juntas, para serem concretizadas, exigem
calendários justos, reuniões, acertos prévios às conquistas econômicas
futuras e (re)acomodações orçamentárias.
Tais execuções nos mostram o que os governos são capazes de produzir,
como planos de metas, para cumprirem com seu objetivo de curto e médio
prazo, aniquilando os problemas sociais, ecológicos, econômicos que se
transformarem em barreiras ao êxito.
Segurança e comodidade. Eis o centro da ação comprometida entre
agentes públicos e privados para ocultar o estado real de conflitos
sócio-econômicos vividos na histórica Pindorama, por milhões de
brasileiros que vivem do sangue e suor da venda de sua força de
trabalho.
A expectativa econômica dos realizadores desta fantasia concreta, é
que o Brasil fature em um mês, 10% do total que arrecada em um ano com o
turismo. Os gastos iniciais foram estimados em US$ 5 bilhões, mas já
chegam, segundo o Governo Federal à casa dos 18 bilhões de dólares.
Valor bem abaixo da estimativa privada que é de US$ 33 bilhões.
Algumas constatações importantes:
1. O Brasil figurará no livro dos recordes como a copa mais cara da história do futebol;
2. A capacidade do Estado de cumprir com suas metas em políticas
públicas, quando define como prioritárias e necessárias para parte
expressiva do povo brasileiro;
3. A função da democracia representativa no Brasil, com nula
participação popular, tanto nos debates, quanto nas decisões coletivas
sobre políticas prioritárias acerca do investimento dos recursos
públicos;
4. A participação integral do povo brasileiro no mundo do trabalho,
uma vez que somos os responsáveis por levantar o progresso proposto de
forma urgente para a Nação. Pagamos com o trabalho, os impostos sobre o
consumo e a renda e com o vazio que ficará após a orgia passar.
Mais uma orgia do capital que, utilizando-se do trabalho, se apropria
dos recursos públicos que nos pertencem, como se fossem dele por
direito. Mais um crime cometido contra o povo brasileiro, a partir da
venda da fantasia organizada pelo jogo do capital contra o trabalho,
através da paixão mundial pelo futebol.
Da Radioagênica NP
Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES.
Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES.