Quarta, 21 de dezembro de 2011
Da Agência Senado
Em
discurso de despedida do mandato, nesta quarta-feira (21), a senadora
Marinor Brito (PSOL-PA) disse ter um "sentimento claro de dever
cumprido", mas também de indignação. Marinor deve deixar a Casa para que
tome posse Jader Barbalho, que, por voto de desempate do ministro do
Supremo Cezar Peluso, teve o registro de candidatura liberado e foi
confirmado na segunda vaga do Pará nas eleições de 2010.
A
senadora disse que continuará sendo a voz de todo que acreditam que um
mandato de senador não deveria ser um "instrumento para negociatas e
enriquecimento ilícito". Ela lamentou, mais uma vez, a decisão do STF,
que em sua opinião "joga na lata de lixo" as esperanças de mobilização
da política brasileira.
Segundo Marinor, quem
mais perde com sua saída do Senado é o povo paraense e o povo
brasileiro, "enganados" pelo abuso do poder econômico, do uso da máquina
pública e dos meios de comunicação para responder a interesses
particulares.
- Talvez por isso alguns tenham
pressa em relação à minha saída daqui. Talvez por isso, alguns queiram
calar rapidamente a minha voz. Talvez por isso, alguns estejam dando
celeridade a esse processo de ingresso, de retorno de um corrupto -
disse Marinor, lamentando a permanência do "voto de cabresto" no Pará.
Oposição programática
Marinor
avaliou ter conseguido, como representante dos interesses do povo do
Pará, fazer uma oposição programática socialista que demonstrou sua
opção pelos pobres e expôs as prioridades e o custo das escolhas do
governo federal. Para ela, a oposição "conservadora" não apresenta
diferenças substanciais em relação ao PT, partido da presidente Dilma
Rousseff.
- O recente livro sobre a "privataria
tucana" em nada é diferente dos mensalões petistas e mostra o quanto
nosso partido é necessário para separar o joio do trigo - afirmou
Marinor, que simbolicamente deixou para seu companheiro de partido,
senador Randolfe Rodrigues (AP), a tarefa de "continuar nessa
trincheira".
A senadora criticou o governo Dilma
por, segundo ela, utilizar quase 50% do Orçamento para o pagamento da
dívida pública, em detrimento de políticas sociais voltadas para a
educação, a saúde e o enfrentamento de violações de direitos humanos.
Tráfico de pessoas
Marinor
apontou ainda um aumento da violência no país nos últimos anos. Como
relatora da CPI do Tráfico Internacional de Pessoas, denunciou que,
enquanto se aprova o Orçamento da União, centenas de meninas no país são
assassinadas em áreas de garimpo "como se fossem mercadoria". Ela
informou, que no relatório final entregue nesta quarta, a CPI apontou a
falta de investimento no preparo dos agentes responsáveis pelo combate
ao tráfico de pessoas.
A senadora recordou não
ter se intimidado com ameaças homofóbicas, numa referência às polêmicas
entre ela e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), durante a tentativa de
votação do projeto de lei que criminaliza a homofobia (PLC 122/2006).
Mencionou também sua atuação na defesa das populações locais e
indígenas excluídas do projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA) e
no apoio às mães de adolescentes "chacinados" por esquadrões da morte
em Belém.
Em apartes, a senadora recebeu elogios
de Randolfe Rodrigues, Alvaro Dias (PSDB-PR), Eduardo Suplicy (PT-SP) e
Lídice da Mata (PSB-BA).