Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A nova estrela

Terça, 27 de dezembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
“Excelente”, diria – se ainda estivesse entre nós, Pedro Matos, um colega que tive – numa ironia não manifesta, mas que todo mundo que o conhecia sabia que estava lá e era a componente dominante do comentário para ele habitual. A ironia estaria seguramente presente, ante o mundo de miseráveis e “muito pobres” – que diferença! – que o Brasil ainda abriga, a guerra urbana disfarçada, os flanelinhas, os buracos em ruas, estradas e cofres públicos, as filas, lágrimas e mortes do SUS, o ensino público e mil outras coisas que infernizam os supostos beneficiários da agora sexta economia do planeta.

            Excelente, como anunciou o jornal britânico The Guardian, a economia brasileira – com uma inflação no limite máximo fixado para ela pelo Banco Central, uma dívida pública que vai levar no ano que vem 47 por cento do orçamento federal e investimentos empacados no setor de infraestrutura, de saúde, e vários outros de importância fundamental – haver se tornado maior que a do Reino Unido, com a presidente Dilma atropelando a rainha e deixando Sua Majestade a comer poeira de pernas para o ar.

            Certamente é um grande feito, mas não feito pelo Estado, que garfa grande parte da economia brasileira na forma de tributos, mas por circunstâncias como a fome chinesa e de alguns outros países por nossas commodities, a exemplo de minérios e soja, a que se somará o petróleo, quando o tivermos excedente.

            Há, entretanto, dois outros fatores que estiveram mais ou menos inativos durante até recentemente, mas que agora estão influindo poderosamente para essa escalada, seja ela passageira ou não. Um dele é o tamanho do território. O das ilhas do Reino Unido é modesto, não dá para abrigar muita coisa, se comparado aos 8.500 mil metros quadrados do território brasileiro, com imensos recursos em terras agricultáveis, em água, em sol, em energia.

            O outro fator é a população, menos pelos braços que ela tenha para produzir – pois na produção a tecnologia vai ficando imbatível – do que pela capacidade atual e potencial que tem para consumir bens e serviços. Nós temos atualmente, pela estimativa do IBGE e arredondando o número, pouco menos de 191 milhões de habitantes. O Reino Unido, segundo estimativa relativa a 2010, tem 62 milhões de habitantes, caminhando para 62,3. Menos de um terço da nossa população.

            Mas vamos comemorar esse nosso “excelente” momento às vésperas de 2012, especialmente aproveitando o fato de que a Zona do Euro está em crise, que repercute diretamente em toda a União Européia – na qual se inclui, com a sua respeitada libra esterlina, o Reino Unido – e indiretamente afeta o restante do mundo, salvo, provavelmente, as economias dos esquimós, dos pigmeus, dos gnomos e da Choreia, porque este último é um país do outro mundo, onde quem chora não mama.

            Coisa aborrecida é atual ordem de grandeza econômica atual – Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Brasil e Reino Unido é muito instável. Segundo o Centre for Economics and Business Research (CEBR), que fez a pesquisa para The Guardian, nos próximos dez anos a Índia deve saltar para o quarto lugar e a Rússia para o quinto, de modo que o Brasil irá para o oitavo, caso não dê a volta por cima e ultrapasse algum dos que estão à sua frente agora, a exemplo da França. Que, aliás, é candidata a ser ultrapassada sem demora pelo Reino Unido.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.