Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Novas estratégias

Segunda, 12 de dezembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
Aparentemente, talvez até tardiamente, alguns partidos estão fazendo um reexame da história política recente do país e chegando à conclusão de que, em questão de estratégia partidária, o PT agiu com extrema perícia até alcançar o poder maior, a presidência da República.

            Depois disso, continuou atuando com grande eficácia, mas aí já não se tratava de estratégia aceitável fora do poder, sob o aspecto ético, mas de uma estratégia de aparelhar e usar o Estado em benefício do partido, chegando ao ponto de priorizar a este em detrimento do Estado e, como corolário, em detrimento da sociedade. Esta estratégia, na qual quase todo o partido (sempre há exceções, em alguns casos bastante evidentes) se engajou, não é eticamente aceitável.

Mas não é o meu propósito, hoje, escrever sobre a conduta do PT após a conquista do poder. O tema a ser abordado é o da estratégia usada durante mais de duas décadas para, afinal, chegar a ele em 2002, quando o Grande Companheiro (olha aí, os petistas poderiam dar a Lula essa alcunha e talvez a história a acolhesse, como a cultura política e já agora a própria realidade e a Rede Globo acolheram o Big Brother, criação político-literária de George Orwell) ganhou a presidência da República.

A estratégia do PT foi ser ele mesmo, e não os outros, embora sua composição multifacetada suscitasse muitas dúvidas sobre o que ele era realmente. Mas essa diversidade interna representava e ainda representa componentes, fatores. O PT é a resultante deles. A estratégia do PT foi a do isolacionismo protagonista (os petistas adorariam se houvessem inventado essa expressão há uns 25 anos). Aceitava alguns apoios, rejeitava outros, mas só em casos de incontornável exceção apoiava candidatura alheia, abrindo mão de apresentar a própria, mesmo sem chances eleitorais.

Em síntese: o PT disputava todos os campeonatos e com isso, mesmo perdendo, foi formando torcida. Até que um dia chegou a grande vitória, à qual se agarrou como caraca em casco de navio, do qual não pretende descolar-se jamais.

O DEM, ao contrário, após o destino acordá-lo do sonho de chegar à presidência com Luís Eduardo Magalhães, tornou-se um coadjuvante do PSDB e isto – precedido por uma manobra combinada do PSDB, PT e TSE – o perdeu. Do pouco que restou, grande parte lhe foi tirada pelo PSD. Afogando-se, tenta agarrar-se à tábua de salvação de uma candidatura própria a presidente da República em 2014, segundo anunciado e reiterado por seu presidente nacional, senador Agripino Maia.

O PPS, que, após tentar a presidência com Ciro Gomes, também tornara-se coadjuvante do PSDB, até pela consciência de sua dimensão diminuta, revisa estratégia e, em resolução aprovada por unanimidade em Congresso realizado ontem em São Paulo, fixa o propósito de lançar candidato próprio a presidente em 2014.

O PSDB, como maior partido da oposição, tem, claro, o mesmo propósito.

Quanto ao PMDB, viu o que aconteceu com o PFL/DEM, notou que já começou a trilhar o mesmo caminho e que chegará inexoravelmente ao mesmo destino se não mudar logo de rumo. Busca coragem e, caso a encontre, o “momento oportuno” para fazê-lo. Há dificuldades, mas não há alternativa que possa salvar o partido.

E o PSD, que nasceu agora, mas tem 55 deputados federais, dois senadores e algumas lideranças expressivas nos Estados (São Paulo, com Kassab e Afif e Bahia, com Otto Alencar, são destaques), mas, se não encontrar bons aliados, quase não terá tempo de propaganda em rádio e televisão? Complicado.

 Finalmente há o PSB, que tem dois pretendentes à presidência da República, Ciro Gomes e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que controla o partido. O PSB dá sinais de que pode encerrar sua fase de coadjuvante.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.