Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Oposições divididas

Sábado, 10 de dezembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
As expectativas maiores são de que o senador e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que passou o dia ontem na Bahia em atividades preparatórias de candidatura, represente o PSDB nas eleições presidenciais de 2014, com o apoio do Democratas e eventualmente outros partidos. A outra principal opção do PSDB ainda é o ex-governador paulista e já duas vezes candidato a presidente José Serra, cuja qualidade mais destacada é a persistência.

            Não por coincidência, foi poso à venda nas livrarias, ontem, o livro – talvez meio livro, meio panfleto, questão que só análises profundas poderão esclarecer – “A Pirataria Tucana”, escrito pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr., no qual o autor acusa José Serra e Aécio Neves de haverem preparado dossiês um contra o outro, quando eram pré-candidatos a presidente pelo PSDB nas eleições de 2010.

O autor acusa Serra de montar uma central de “arapongagem” na Anvisa, quando era ministro da Saúde e de a haver mantido ativa depois. Além disto, o jornalista-escritor reivindica para ele mesmo a glória de ter sido o responsável pela elaboração do dossiê contra Serra, encomendado a ele pelo próprio Aécio. Nenhum dos dois dossiês foram usados, segundo o Inspetor Clouseau, perdão, segundo o autor de um dos dossiês e do livro, porque Serra e Aécio chegaram a um acordo.

De qualquer sorte, o senador Aécio Neves, na Bahia, disse que não comentaria o assunto por enquanto, enquanto José Serra seguiu o mesmo caminho. “Não li ainda não. Prometo que, quando eu ler, comento”, disse, rindo, o que sugere que o assunto pode ser mesmo sério.

Aliás, talvez já pondo as barbas (que não usa) de molho, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, simpático à candidatura de Aécio, comentou no programa Canal Livre, da Band, que Aécio e Serra não são os únicos nomes disponíveis no PSDB para disputar a presidência da República. Citou o governador Goiás, Marconi Perillo e o senador Álvaro Dias, ex-governador do Paraná, como alternativas que o PSDB tem para um acordo.

Enquanto isso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, guru dos tucanos, adverte que Aécio está dando mole, muito maneiro e muito parado na oposição, e ensina, lá na linguagem dele, que uma candidatura a presidente da República não se constrói de repente, é um processo longo e não dá para perder tempo.

Como se observa, a confusão é grande entre os tucanos, cada um bicando numa direção diferente, quando não se bicam. E no meio de tudo isso, Serra irrita os quatro pré-candidatos do PSDB à prefeitura de São Paulo, agindo como “candidato-fantasma”, no dizer de um dos quatro. É que Serra não define se quer ou não quer disputar a prefeitura (se quiser, fica praticamente impossível outra candidatura tucana) e nada indica que a declaração de Aécio, feita ontem em Salvador, incitando-o a ser candidato, vai tirar Serra de cima do muro, posição que deve considerar estratégica.

Mais complicação para o PSDB? Tem. Contestando o senador Aécio Neves, para quem se tucanos e democratas estiverem separados em 2014, isso fragilizará a oposição, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino, reafirmou a disposição de seu partido de lançar candidato próprio para a sucessão de Dilma Rousseff. “Busquemos nos fortalecer o PSDB e o Democratas e, no momento oportuno (não disse se no segundo turno ou antes, a depender das circunstâncias), nos juntemos”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.

Ivan de Carvalho é jornalista baiano.