Sábado, 10 de dezembro de 2011
Da revista Veja
Escutas da PF revelam como deputados petistas encomendaram a Lista de Furnas para incriminar opositores, no auge do mensalão. Há dois anos, o mesmo falsificador tentou entregar documento forjado ao STF
O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT-SP)
participa de evento comemorativo dos 30 anos do PT, na Assembleia
Legislativa de São Paulo, em 2010
(J.F. Diório/Agência Estado)
No começo de 2006, a chamada Lista de Furnas
quase enterrou a CPI dos Correios, que investigava o mensalão, maior
escândalo do petismo. O documento elencava doações irregulares de
campanha, no valor de 40 milhões de reais, a adversários do governo
Lula, e serviria para mostrar que práticas escusas de financiamento não
eram adotadas apenas pelo partido do presidente, mas seriam comuns a
todas a legendas. Poucas semanas depois, porém, descobriu-se que a tal
lista não passava de grosseira falsificação. A
edição de VEJA que chega às bancas neste sábado finalmente revela como o
documento foi forjado por um notório estelionatário, por encomenda de
dois deputados petistas de Minas Gerais, com incentivo e apoio da cúpula
nacional do partido.
VEJA teve acesso a conversas gravadas pela Polícia Federal com
autorização judicial, no primeiro semestre de 2006. Elas evidenciam que o
estelionatário Nilton Monteiro - preso em outubro deste ano por forjar
notas promissórias - agiu sob os auspícios dos deputados Rogério Correia
e Agostinho Valente (hoje no PDT) com o objetivo de fabricar a lista.
Há diálogos seguidos entre Monteiro e Simeão de Oliveira, braço direito
de Rogério Correia. Os dois discutem os padrões das assinaturas de
figuras importantes da oposição naquele momento, como o líder da minoria
na Câmara, José Carlos Aleluia, do DEM, e o então líder do PSDB,
Antônio Carlos Pannunzio. Em troca das falsificações, Monteiro, além de
receber pagamento diretos, exigia a liberação de recursos em bancos
públicos. É o que demonstram as gravações.
Embora a Lista de Furnas tenha sido desacreditada ainda em 2006, Nilton
Monteiro esteve em Brasília, há dois anos, para tentar apensar ao
processo do mensalão, que corre no Supremo Tribunal Federal, um recibo
em que o ex-presidente do DEM, Rodrigo Maia, assumiria o recebimento de
200 000 reais do caixa da estatal de energia. Relator da causa no STF, o
ministro Joaquim Barbosa rejeitou o documento - outro óbvio embuste. Em
sua visita à capital, Monteiro foi ciceroneado pelo advogado petista
William dos Santos, próximo do deputado Correia e de José Dirceu,
principal réu do mensalão. Na ocasião, os dois visitaram também o
gabinete de Ideli Salvatti, hoje ministra de Relações Institucionais,
então no exercício de seu mandato como senadora. Procurada pela revista,
Ideli negou o encontro.
Leia abaixo um trecho das gravações obtidas por VEJA. O interlocutor é Simeão de Oliveira, assessor do deputado Rogério Correia:
Nilton: Vou acabar com eles tudinho. Agora, é o
seguinte: você tem que me dar proteção, porque eu estou precisando. Não
interessa só isso não. Eu quero aquele negócio que foi escrito no papel,
que o Agostinho fez.
Simeão: Mas aí eu não vou discutir o negócio do Agostinho (ex-deputado federal petista Agostinho Valente) com você, não.
Nilton: Eu sei que você não vai discutir, mas pode saber que... é aquilo que eu preciso.
Simeão: Não, mas eu...
Nilton: São aqueles negócios que eu pedi da Caixa e do Banco do Brasil, pra liberar pra mim urgente no BNDES, lá.
Simeão:Não, isso eu não vou discutir, não.
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A reportagem completa pode ser lida no Blog do Sombra.
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