Quinta, 8 de dezembro de 2011
Da Pública Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Defesa do traficante mexicano Jesus Vicente Zambada Niebla acusa
promotores de tentar esconder provas alegando ameaça à seguranla
nacional
Os advogados do narcotraficante Jesus Vicente Zambada Niebla, filho
de um dos cabeças do poderoso Cartel de Sinaloa, alegam que a justiça
americana está alegando ameaça à segurança nacional para esconder
provas.
Zambada Niebla foi preso no México em março de 2009, extraditado para
os EUA em fevereiro de 2010, e agora enfrenta acusações de tráfico de
drogas na corte federal em Chicago, onde está detido na prisão
Metropolitan Correctional Center.
Ele alega que o governo americano firmou um pacto com a liderança do
Cartel de Sinaloa garantindo imunidade aos chefes em troca de
informações contra outras organizações narcotraficantes.
No começo de novembro, os advogados de Zambada Niebla entraram com
uma ação pedindo para não serem excluídos de conversas entre os
promotores e o juiz do sobre provas qualificadas como material
confidencial.
Os promotores querem que a defesa não tenha acesso a essas provas.
Os advogados acreditam que essas provas dizem respeito a uma
testemunha-chave no caso. Trata-se do advogado mexicano Humberto Loya
Castro, que teria servido de intermediário entre a liderança do Cartel
de Sinaloa e agentes do governo americano.
O caso
Zambada Niebla é filho de Ismael “El Mayo” Zambada Garcia, um dos
líderes do Cartel de Sinaloa – um grande importador de armas e
exportador de drogas sediado no México. O grande chefão do cartel é
Joaquin Guzman Loera, conhecido como “El Chapo”, que escapou
“milagrosamente” de uma prisão de segurança máxima no México em 200,
dias antes da decisão que poderia extraditá-lo para os Estados Unidos.
Desde então, el Chapo construiu um dos mais poderosos cartéis de droga no México.
O governo americano nega ter oferecido qualquer acordo com garantia
de imunidade a Zambada Niebla. Mas os promotores confirmaram que outro
membro graduado do Cartel de Sinaloa, o advogado mexicano Loya Castro,
cooperou como fonte do DEA por cerca de 10 anos, enquanto trabalhava
para a organização.
Documentos legais do governo americano confirmam também que Loya
Castro ajudou a construir uma relação direta de cooperação entre agentes
do DEA e Zambada Niebla – antes de sua prisão em 2009.
Loya Castro é descrito nas apelações de Zambada como “um confidente íntimo de Joaquin Guzman Loera (Chapo)”.
Querendo manter o segredo
Em setembro, o governo americano apresentou uma ação evocando a Lei
de Procedimentos de Informações Classificadas, cujo objetivo é manter
longe do publico informações que colocariam em risco a segurança
nacional.
A lei, decretada há 30 anos, funciona na prática como uma cortina de
fumaça nos casos criminais de conteúdo sigiloso, encobrindo detalhes
associados a operações clandestinas do FBI ou da CIA.
O ato requer que a inclusão de qualquer prova sigilosa em um caso
seja avisada antes à corte para que esta determine se as provas serão
admitidas.
Assim, afirmam os advogados de Zambada Niebla, os promotores estariam
assegurando que a exclusão da defesa das discussões sobre evidências
que supostamente poderiam ameaçar a segurança nacional. A defesa não
teria chance de argumentar e não ficaria sabendo quais são as provas
apresentadas para o juiz – mesmo aquelas com “intermédio” de Loya
Castro.
O intermediário
A defesa acredita que há evidências consistentes do acordo entre o
Cartel de Sinaloa e o governo americano – a maioria delas partindo da
relação de Loya Castro com a polícia e os agentes de inteligência
americanos.
Uma delas é a descrição de Fernando Gaxiola, advogado de defesa de
Zambada Niebla, que manteve reuniões com Loya Castro no início do
processo. Desde conta, por exemplo, o seguinte trecho:
“O senhor Loya Castro disse que agentes americanos afirmaram que em
troca de informações sobre organizações de tráfico de drogas rivais, o
governo americano concordou em extinguir o processo contra ele e a não
interferir nas atividades relacionadas ao tráfico de drogas do Cartel de
Sinaloa, nem processar (…) a liderança do cartel. Os agentes teriam
dito que isso teria sido aprovado por altos oficiais e promotores
federais”.
Castro teria, segundo a defesa, informado a Zambada Niebla sobre o
acordo, que colaborou em prover as informações requeridas a Castro, que
as repassaria aos agentes.
“Os agentes disseram a Loya Castro que deveriam ser notificados antes de qualquer encontro comel Chapo.
Eles garantiram que não o seguiriam e não interfeririam nas reuniões
para que ele se mantivesse calmo e obtivesse o máximo de informações
possíveis. O Sr Loya Castro informou el Chapo que os agents sabiam dos encontros”, diz o testemunho no processo.
“O senhor Loya Castro disse ter entregue aos agents informações
importantes provenientes de Chapo Mayo e Zambada Niebla, que levaram à
prisão de grandes chefões das organizações rivais”
Mas os promotores afirmam que a versão de Loya Castro dos
acontecimentos não bate com o quadro pintado pelos advogados de Zambada
Niebla.
O caso judicial tem chamado a atenção pela ousadia da estratégia pela
defesa. Afinal, o traficante mexicano está alegando ser protegido do
governo americano para justificar uma ação criminal.
Clique aqui para ler a reportagem original, em inglês.