Domingo, 4 de dezembro de 2011
Da Tribuna da ImprensaReflexões de um brizolista sobre o caso de Carlos Lupi
Valmor Stédile
Insisto em interpretar no sentido oposto ao das ondas, reforçando o
conteúdo do informativo da Rede PDT emitido extraordinariamente no
sábado sob o seguinte título: “Dilma deve demitir Gilberto Carvalho, não
Lupi”. Sim, porque está no ministro-chefe da Secretaria Geral da
Presidência o epicentro da crise (não escândalos, diga-se de passagem)
envolvendo o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi.
Trata-se de “fogo amigo” que tem como principal objetivo afastar o
pedetista do MTE para colocar no lugar José Lopes Feijó, do PT,
ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, aliás, que também
foi assessor de Carvalho após se afastar da direção do sindicato.
A propósito, esta crise vem sendo provocada desde o início do mandato
da presidente Dilma Rousseff, quando o governo esvaziou parte das
atribuições do Ministério do Trabalho, como a capacidade de negociação
com as centrais sindicais. O mais evidente factóide produzido por
intervenções atribuídas a Gilberto Carvalho veio no início da semana com
a decisão da Comissão de Ética da Presidência recomendando a demissão
de Lupi, cujos conselheiros chegaram a absurdas conclusões dando idéia
de que “a inexistência de indícios de suborno não exime o ministro das
supostas irregularidades”.
Não por menos, Dilma foi para Caracas na Venezuela deixando aos
“conselheiros presidenciais” a tarefa de detalhar melhor o imbróglio no
qual se meteram, produzindo manchetes antes mesmo de levarem o tema à
presidente.
Decifrada a questão, o ministro Carlos Lupi acabou fortalecido e esta
Comissão de Ética encerra com qualquer credibilidade para prosseguir
dando palpites sobre questões administrativas, mesmo porque tem
histórico de falhas por haver se omitido diante de situações muito
piores que no passado envolveram o próprio Gilberto Carvalho.
Para os pedetistas, não resta outro caminho senão sustentarem o
óbvio: a presidente Dilma Rousseff é quem tem o poder de nomear e
demitir ministros. Se demitir Lupi, sendo vencida pelas táticas
palacianas e pressões de mídia, mostrará quanto é limitada sua
capacidade de resistir, e neste ambiente o PDT – saindo arranhado da
situação – pode realinhar seu destino adotando uma postura de
independência em relação ao governo.