Sábado, 17 de dezembro de
2011
Por Ivan de Carvalho
Depois de rejeitados pela maioria governista três convites para que o ministro Fernando Pimentel, petista que comanda a pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, compareça ao Congresso Nacional – seja à Câmara dos Deputados, seja ao Senado – para responder a questionamentos e dar explicações sobre as denúncias de que está sendo alvo, o PSDB faz uma nova tentativa.
Depois de rejeitados pela maioria governista três convites para que o ministro Fernando Pimentel, petista que comanda a pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, compareça ao Congresso Nacional – seja à Câmara dos Deputados, seja ao Senado – para responder a questionamentos e dar explicações sobre as denúncias de que está sendo alvo, o PSDB faz uma nova tentativa.
A bancada do PSDB no Senado
quer, agora, que o ministro, mesmo sem ir ao Congresso – graças à blindagem que
a presidente Dilma Rousseff, responsável direta e única por sua escolha,
providenciou junto à base parlamentar governista – responda por escrito a doze
perguntas que procuram sintetizar as principais desconfianças do principal partido
da oposição.
Assim é que o líder do PSDB
no Senado, Álvaro Dias, apresentou à Mesa Diretora da Casa – que decide o
assunto sem precisar submetê-lo ao plenário – um requerimento sobre as
suspeitas de possível tráfico de influência relacionado às atividades da
empresa de consultoria do ministro.
É evidente que a oposição
não tenta criar uma comissão parlamentar de inquérito na Câmara, no Senado ou
uma CPI mista de deputados e senadores por saber que nem chegaria perto do
número de assinaturas necessárias (um terço de cada Casa do Congresso) para
tornar obrigatória a criação da CPI. A maioria governista é esmagadora na
Câmara e muito ampla no Senado.
Assim, resta o requerimento
para prestação de informações por escrito, mas a Mesa Diretora do Senado é composta,
em maioria, por governistas. Salvo por alguma inesperada condescendência do
governo, o requerimento do líder Álvaro Dias será rejeitado. O requerimento
questiona os serviços de consultoria prestados entre 2009 e 2010 e pede que
sejam apresentados notas e documentos. Também há uma questão com o pagamento de
R$ 1 milhão por serviços – basicamente palestras de Pimentel (na época sem
mandato eletivo ou cargo público) para as dez regionais da Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais. Existe a denúncia de que tais palestras pagas
não teriam sido feitas. Nem o ministro nem o presidente da Fiemg quiseram falar
sobre isso ontem. O jornal O Globo, no entanto, na quinta-feira, publicou
reportagem mostrando que as regionais da Fiemg desconhecem essas palestras.
Coisa mais grave está
acontecendo, no entanto, e não a partir de ontem apenas, mas desde meados da
semana. A presidente da República, Dilma Rousseff, com toda a responsabilidade
que o cargo lhe confere, sustenta – e voltou a defender ontem essa tese, ou
teoria, durante café da manhã com jornalistas que fazem a cobertura de rotina
do Palácio do Planalto – que o ministro Pimentel, e com mais razão o governo,
não têm que explicar nada a ninguém. Isto porque, quando trabalhou (?!) na
empresa de consultaria, prestando serviços, Pimentel não era ministro e sequer
exercia outra qualquer função pública.
A tese ou teoria chega a seu
ponto nuclear quando a presidente afirma que, por não estar Pimentel em seu
cargo ministerial, o que tenha ele feito antes de participar do governo nada
tem a ver com este. Mas claro que tem. Caso o ministro, antes de sê-lo, haja
feito algo que não devia, sob o aspecto da ética pública, por exemplo, o
problema é um pouco do governo por havê-lo incluído na equipe, o que representaria
falha na seleção de nomes até para os mais relevantes cargos. Uma falha da
presidente, uma falha da Abin. Mais importante ainda: se alguém que ocupa
função no governo, ainda mais função ministerial, portanto de muito destaque e
responsabilidade, agiu eticamente mal antes de ser guindado ao cargo, o governo
tem a total responsabilidade por mantê-lo onde não deveria permanecer, uma vez
conhecido o malfeito. É, ao contrário do que sustenta a presidente Dilma
Rousseff, uma questão de governo.
De resto, o fato de não
estar à época em função pública (antes ocupara vários cargos relevantes na
administração municipal de Belo Horizonte, culminando com o de prefeito, que exerceu
com eficiência e terminou no último dia de 2008) não exclui eventual
comportamento indevido. Então, pois, fora das funções estatais, ganhou, segundo
o noticiário, R$ 2 milhões em troca de polêmicas consultorias, incluindo ainda
mais polêmicas palestras, em 2009 e 2010, pelas quais teria ganho R$ 1 milhão
daqueles R$ 2 milhões.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.