Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 18 de dezembro de 2011

Vejam quem são e como moram

Domingo, 18 de dezembro de 2011
Do jornalista Alex Ferraz, na coluna "Em Tempo"
publicada na Tribuna da Bahia
Nunca fiz teste de QI, mas com certeza o meu deve ser baixo. Não há outra forma de explicar o fato de eu não conseguir apreender e ficar feliz com a fantástica realidade econômica que este país vive atualmente.

Vejo a enxurrada de dados oriundos de fontes oficiais dando conta de que houve uma grande redução na pobreza, vejo anúncios na televisão dizendo que a vida melhorou muito nas cidades, vejo pessoas eufóricas comprando fogões e geladeiras, mas não consigo deixar de ver a paisagem urbana que a televisão repete todos os dias, nas diversas reportagens que faz sobre enchentes, falta de transporte, esgotos a céu aberto etc. 

Até mesmo quando a matéria é positiva, tipo Natal na periferia, o cenário é deprimente.

Saltam aos olhos, de pronto, “ruas” que não passam de caminhos barrentos, “córregos” que nada mais são do que esgotos (provavelmente fétidos, claro), matagais intransponíveis, barracos de barro ou madeira aos quais teimam em chamar de casas e pessoas maltrapilhas a ponto de confundirmos com alguma imagem feita nos mais pobres países da África.

E quando tais pessoas abrem a boca para falar, onde estão os dentes? E o barrigão das crianças nos leva a pensar: onde está a saúde?

Isto posto, fica claro porque devo ter o QI baixo ou então estarei sofrendo alucinações. Sim, pois é impossível sincronizar os dados oficiais com a realidade que nos aparece como cenário das periferias. Vou procurar um psiquiatra.