Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 3 de dezembro de 2011

Wagner interfere

Sábado, 3 de dezembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
O governador da Bahia, Jaques Wagner, está gradualmente aumentando a freqüência de suas intervenções públicas na política nacional. Isto faz sentido, na medida em que ele, no seu partido – que ainda não é hegemônico no país, mas busca com determinação esta condição – é uma das lideranças com maior influência, destaque e poder de fogo.

            Chegou ao governo eleito em primeiro turno e reelegeu-se com extrema facilidade também no primeiro turno para governar o quarto Estado em população, portanto o quarto maior colégio eleitoral do país. É, politicamente, o mais importante governador entre os cinco do PT, estando bem à frente do segundo mais importante, o governador gaúcho Tarso Genro.

            Wagner integra o chamado “campo majoritário”, o grupo praticamente hegemônico dentro do PT, que conta com seus principais líderes o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e o ex-deputado e ex-ministro José Dirceu, em acelerado e avançado processo de reabilitação, após o dolorido expurgo forçado pelo Escândalo do Mensalão, caso que se acredita será julgado pelo Supremo Tribunal Federal no ano que vem. Uma absolvição completa no STF das várias acusações que pesam sobre ele, consumaria a reabilitação política de Dirceu. Uma condenação em todas elas ou sequer em uma delas faria dele, digamos, um político influente com necessidades especiais.
            Dirceu está, independente de decisões do STF, consensualmente (não sei, claro, se a brilhante mente dele compartilha esse consenso) excluído da seleta relação de petistas que podem vir a ser candidatos a presidente da República em 2014 ou, se não der para tão cedo, 2018. Aliás, Palocci também, por incidência e reincidência em malfeitos.

Não se devendo desconsiderar que, em política, quanto em tantas outras coisas, previsões a longo prazo (caso mais de 2018) não são mais do que exercício de fantasia travestido de previsão fundamentada. Ainda mais em um mundo agitado por crise financeira e econômica global nucleada, no momento e apenas no momento, na União Européia e Estados Unidos, além de crise política gravíssima envolvendo o chamado mundo árabe, o Irã, a Turquia e, inevitavelmente, como seria de esperar, Israel. Nesse quadro, a idéia que se faz hoje, a sério, de 2014, pode não passar, quando lá chegarmos, de uma piada, no estilo humor negro.

            No entanto, considerando que a rotina prossiga rotineira, para 2014 a relação de petistas presidenciáveis tem somente três nomes, Dilma (se chegar a meados de 2014 muito popular e politicamente forte), Lula e Jaques Wagner, este, no caso das candidaturas dos outros dois ficarem inviabilizadas por algum ou alguns motivos. Aliás, Wagner já foi até citado por Lula como terceiro nome nesta relação e é muito amigo do ex-presidente e hoje também de Dilma.

            Mas, voltando lá para o começo, em poucos dias o governador da Bahia fez duas intervenções públicas a respeito de ministros considerados cadentes. A primeira, para dar força ao baiano ministro das Cidades, Mário Negromonte, não somente alvejado por denúncias como por forte fogo amigo de seu próprio partido, o PP, por inspiração, todo mundo sabe, do ex-ministro (governo Lula) Márcio Fortes.

            A segunda intervenção, aparentemente muito mais ousada, em entrevista à Folha de S. Paulo, para ajudar a derrubar o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi – que não é baiano e é presidente licenciado do PDT, partido que o indicou para o cargo. “Ficou uma coisa praticamente insustentável”, disse Wagner, referindo-se à recomendação da Comissão de Ética Pública à presidente Dilma Rousseff para que demita Lupi. Sugeriu ainda que, se ficar claro que Lupi não passa da “reforma ministerial” de janeiro, melhor que saia logo, ainda que se ponha um interino, mesmo que seja o atual secretário executivo do ministério. E Wagner ainda sugeriu que o próprio Lupi vá a Dilma e diga que está “ficando muito desconfortável, quem sabe é melhor eu lhe deixar à vontade”. O que tornaria a coisa confortável para a presidente.

            Sei não. Mas que ficou parecendo coisa combinada, ficou.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.