Terça, 6 de dezembro de 2011
Por
Ivan de Carvalho
É impressionante o número de ministros demitidos nos
primeiros 11 meses e cinco dias (o mais recente ato de demissão só ontem foi
oficializado, embora houvesse ocorrido e anunciado no domingo). Saiu a
contragosto o petista Antonio Palocci, do cargo de ministro-chefe da Casa
Civil, Alfredo Nascimento, do PR, foi obrigado a deixar o Ministério dos
Transportes, Wagner Rossi, do PMDB, acabou defenestrado do Ministério da
Agricultura, Pedro Novais, também do PMDB, foi arrancado a forceps do
Ministério do Turismo, Orlando Silva, do PC do B, chutado do Ministério do
Esporte e Carlos Lupi, presidente nacional licenciado do PDT, que dispensou a
bala para cair do Ministério do Trabalho e Emprego.
Além dos citados, que
deixaram os cargos sob denúncias de haverem se envolvido com malfeitos e
eventualmente malfeitores, caiu ainda, por incompetência para a função, o
ministro das Relações Institucionais, o petista Luís Sérgio, mas foi levantado
para ocupar o Ministério da Pesca, ainda que não se tenha notícia de que em
toda a sua vida haja pescado sequer uma piaba. E Ideli Salvati, da qual também
não se tem notícia de que haja cometido igual proeza – e, quem sabe, por isso
mesmo? – foi retirada da Pesca e posta nas Relações Institucionais, onde,
afirmam até aqui os governistas, tem se desempenhado a contento.
Convém, de quando em vez, relembrar essa vasta
relação, o que, até, sugere uma de três conclusões: ou a presidente da
República não sabe escolher seus auxiliares mais importantes, ou vários deles
não foi ela que escolheu (o que seria lamentável, pois quem foi eleita
presidente e recebeu mandato para isto foi ela) ou não há na sua base política
ou social pessoas adequadas e disponíveis para esses cargos, hipótese que
parece a mais improvável, ainda que não impossível.
Depois da queda espetacular de Carlos Lupi do
cargo de ministro do Trabalho e Emprego (o espetáculo fica por conta da maneira
como ele se comportou entre a deflagração do processo e seu desfecho), três
ministros enfrentam ou estão entrando na zona de turbulência.
O mais notório dos três é o ministro das Cidades,
Mário Negromonte, deputado e presidente do PP da Bahia. Alvo de núncias, ele as
atribui a “fogo amigo” – gente do PP que lhe quer tomar o cargo para devolvê-lo
ao ex-ministro Márcio Fortes.
No entanto, o PT, que mira com gula o Ministério
do Trabalho, instrumento para se tornar hegemônico no movimento sindical, tem
mais fome ainda para abocanhar o Ministério das Cidades, com orçamento bem
maior e as obras da Copa do Mundo – evento que, em entrevista recente a Marília
Gabriela, no SBT, o agora saudoso Doutor Sócrates disse que custará muito caro
ao povo brasileiro, dará lucro à Fifa e melhor seria, para nós, que não fosse
realizada no Brasil. Lembrou ainda que grande parte da crise econômica que a
Grécia está enfrentando decorre da realização, lá, das Olimpíadas.
Bem, além de Negromonte, está entrando na zona de
turbulência o petista mineiro Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio (questionamento de faturamento com consultorias de uma
empresa, quando não ocupava cargo público ou mandato). E finalmente o petista
baiano Afonso Florence, contra cujo Ministério do Desenvolvimento Agrário a
oposição já tentou, sem êxito, criar uma CPI na Câmara. No domingo, no Canal Livre da Band, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, disse
que o governo está dificultando informações sobre esse ministério, mas garantiu
que “as denúncias vêm aí, vão sair”, embora sem antecipar nenhuma.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.