Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Inflação: a eterna justificativa para juros altos

Sábado, 7 de janeiro de 2012
Da "Auditoria Cidadã da Dívida"
Os jornais de hoje [6/1] divulgam a taxa de inflação (IPCA) do ano passado, de 6,5%, procurando enfatizar que esta taxa é a maior em 7 anos, e repercutir o argumento do governo, de que isto seria um resultado de um crescimento dos salários do povo brasileiro. Ou seja: na visão do governo e da grande imprensa, os trabalhadores assalariados seriam os culpados pela inflação.

O “Jornal Nacional” ainda traz opinião de um analista ligado ao setor financeiro argumentando que o Banco Central deve conter a atividade econômica – leia-se, aumentar os juros – para conter a inflação. Este é um argumento que tem sido eternamente utilizado para justificar uma das principais ilegitimidades da dívida pública: as altíssimas taxas de juros praticadas há décadas pelo Brasil.

Porém, analisando-se os dados detalhados do IPCA, divulgados pelo IBGE, e ponderando-se cada item pelo seu peso na cesta de consumo, verifica-se que nada menos que 70% desta inflação não guarda relação nem com uma suposta melhoria no emprego e na renda do povo brasileiro, e nem com as taxas de juros, mas sim com tarifas definidas pelo próprio governo, e com a oferta de alimentos.

No caso das tarifas públicas, observa-se o aumento nas taxas de água e esgoto, gás, energia elétrica, telefonia, transportes e combustíveis. Também fazem parte deste grupo os serviços de educação e saúde, que deveriam ser fornecidos e controlados pelo governo, mas não são, devido à priorização dos recursos orçamentários para o pagamento da dívida pública. No caso dos aluguéis, a legislação permite o aumento conforme o índice IGP-M, que apresentou inflação bem maior que o IPCA em 2010, impactando o setor no ano passado.

No caso da alta dos alimentos, a solução não é, nem de longe, a alta nos juros, e muito menos a contenção nos salários do povo brasileiro, mas sim, uma ampla reforma agrária e agrícola, com a alteração dos atuais mecanismos de comercialização, hoje dependentes de atravessadores, grandes oligopólios do varejo e da especulação com as commoditties no mercado internacional. É inadmissível que um país como o Brasil sofra com alta no preço de alimentos.

Por último, é necessário ressaltar a total incoerência do setor financeiro, ao criticar a alta dos preços – obviamente, para justificar uma política de juros elevadíssimos. Em 2011, os serviços bancários subiram nada menos que 12,46%, ou seja, quase o dobro da média de inflação no ano.

Em bom português: os banqueiros, se aproveitando de grande oligopólio – no qual poucos bancos controlam grande fatia do mercado – aumentam os preços de seus próprios serviços, e depois vão à imprensa reclamar que a inflação está muito alta e que por isso o governo deveria aumentar os juros. Obviamente, para que possam ganhar ainda mais com a dívida pública.
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