Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Vivemos numa época em que fazer política não passa de uma estratégia de marketing

Segunda, 2 de janeiro de 2011
Carlos Newton
O mundo gira e as coisas vão se modificando. Uma das novidades é a mudança na prática política. No tempo do presidente Washington Luiz, governar era abrir estradas. Hoje, deveria ser investir em infraestrutura (energia, transporte e telecomunicações), para reduzir o chamado Custo Brasil e pavimentar nosso caminho rumo ao inevitável desenvolvimento.

Mas o que vemos? Ao que parece, governar hoje não passa de colocar em prática ardilosas estratégicas de marketing, simulando realizações e enganando o respeitável público, que em sua esmagadora maioria não se preocupa com política, está mais ligado em futebol, computador e novelas de televisão.

Um bom exemplo é a matéria do Estadão sobre política de segurança pública, que oportunamente nos foi enviada pelo comentarista Carlo Germani. A reportagem mostra que o governo suspendeu, por tempo indeterminado, a elaboração de um plano de articulação nacional para a redução de homicídios, um dos pilares da política de segurança pública anunciada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no início do governo Dilma Rousseff.

A decisão surpreendeu e irritou integrantes do Conselho Nacional de Segurança Pública, que acompanham a escalada da violência no país. O Brasil é o país com o maior índice de homicídios do mundo em termos absolutos — quase 50 mil por ano, 137 por dia — e o sexto quando o número de assassinatos anuais é comparado ao tamanho da população.

Em janeiro, ainda embalado pelo ritmo da campanha eleitoral (também toda calcada em marketing), Cardozo anunciou que buscaria um pacto com os governadores, inclusive com os oposicionistas, para preparar um grande plano de combate à violência. Em maio, depois de longos meses de discussões, um representante da Secretaria Nacional de Segurança Pública chegou a apresentar o esboço do plano.

A proposta seria enviada ao Palácio do Planalto e, depois, anunciada formalmente como o plano do governo federal para auxiliar governos estaduais a reduzirem crimes de sangue. No entanto, depois de passar pela Casa Civil, o plano foi discretamente engavetado.

“Ficamos sabendo que Dilma mandou devolver o plano porque a redução de homicídios é papel dos estados e não do governo federal. Consideramos isso um retrocesso e estamos cobrando que o governo apresente sua estratégia de enfrentamento da violência” — afirma Alexandre Ciconello, que representa no Conselho Nacional de Segurança Pública o Instituto de Estudos Socioeconômicos.

Segundo ele, a equipe de Cardozo suspendeu até mesmo as discussões sobre o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania. Lançado em 2008 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa reunia quase 100 diferentes ações com um objetivo central: reduzir o índice de homicídios no Brasil de algo em torno de 26 por 100 mil habitantes para 14 por 100 mil em 2012.

Traduzindo: nada disso era para valer. São projetos virtuais, feitos apenas para constar, exatamente iguais ao combate à criminalidade no Estado do Rio de Janeiro, que serve como exemplo nacional. As estatísticas no Rio de Janeiro são flagrantemente manipuladas, isso já está mais do que comprovado. A polícia não consegue resolver nem 10% dos casos de homicídios, só prendendo o criminoso quando ele é denunciado.

Praticamente não existe polícia investigativa. As delegacias se limitam a registrar as ocorrências. Os crimes somente são investigados quando envolvem alguma personalidade famosa e saem no jornal. Esta é a realidade que todos conhecem. Justamente por isso, a maioria das vítimas nem se dá ao trabalho de prestar queixa. Só o faz quando é obrigada, para receber seguro ou justificar falta ao trabalho, coisas assim.

Na política de hoje, tudo é virtual. O importante não é quem governa, mas quem faz o marketing, produzindo factóides (pseudos fatos), especialidade em que o ex-prefeito Cesar Maia era insuperável.

E como é que as coisas funcionam, nessa situação? Ora, é só lembrar o velho ditado, já popular aqui no Blog: O Brasil cresce de noite, quando os governantes e políticos estão dormindo e não podem atrapalhar. Basta ver o exemplo da Bélgica – 15 meses sem governo constituído, tudo funcionando e o país crescendo.

Aí surge uma boa idéia: por que não ter políticos apenas virtuais? Não há dúvida de que seriam muito melhores do que esse pessoal que hoje milita no ramo.

Fonte: Tribuna da Imprens Online