Sábado, 25 de fevereiro de 2012
Os jornais de hoje destacam a operação de troca de dívida da Grécia,
que consistirá na conversão de parte da dívida atual em novos títulos,
com um determinado "desconto". Os jornais procuram destacar as supostas
perdas que este processo acarretaria para os bancos (colocando-os como
vítimas da situação), porém, o setor financeiro, mais uma vez, será
salvo pelo Estado, enquanto o povo paga a conta.
Confirmando a previsão feita na edição de 19/2 deste boletim,
o jornal Estado de São Paulo mostra que o Banco Central Europeu, mais
uma vez, salvará os bancos privados com dinheiro do povo, em operações
denominadas sob o complexo nome de “operações de liquidez de longo
prazo". Como sempre, se utiliza o “economês” para tentar ocultar o que
tais manobras realmente significam:
“Em dezembro, os bancos da
zona do euro tomaram emprestado quase 500 bilhões na primeira de duas
operações de liquidez de longo prazo que o Banco Central Europeu (BCE)
vai realizar. A segunda será no fim deste mês.”
Interessante
observar que a quantia de 500 bilhões de Euros (liberados pelo BCE aos
bancos privados apenas em uma das “operações de liquidez”) representa o
quíntuplo da suposta "redução da dívida" grega, alardeada pela imprensa.
Além
do mais, conforme mostra o Portal G1, grande parte do novo empréstimo
de 130 bilhões de euros a ser contraído pela Grécia será destinado
justamente para cobrir tais “perdas” dos bancos:
“De acordo
com a imprensa grega, dos 130 bilhões de euros do empréstimo 30 bilhões
de euros serão utilizados como incentivo para os bancos e outros 23
bilhões para recapitalizar as perdas bancárias, embora o ministro das
Finanças heleno, Evangelos Venizelos, reconheceu que este último número
poderia aumentar até 50 bilhões de euros, dependendo das necessidades
bancárias.”
Em suma: tal “redução da dívida” não passa de uma falácia.
Esta
troca de dívida também inclui as chamadas “Clausulas de Ação Coletiva”,
que conforme verificou a recente CPI da Dívida na Câmara dos Deputados
do Brasil, impõem a total quebra de soberania do país.
Apenas a
realização de uma profunda auditoria pode mostrar que dívida é essa,
sempre usada como instrumento de aplicação do receituário neoliberal
nefasto, conforme mostra o recente
discurso de Sonia Mitralia, membro do Comité Grego contra a Dívida, no
encontro de Marselha de 17/2/2012, organizado pela campanha francesa
“por uma Auditoria Cidadã da dívida pública”:
“A
primeira coisa a fazer é gritar alto e bom som que os Gregos não devem
pagar esta dívida que os sufoca e que não é deles. Deve ser
imediatamente suspensa. Porquê? Para fazer aquilo a que obriga a lei
internacional, a ONU, uma quantidade de tratados internacionais, aliás
assinados por todos os nossos governos: investir na satisfação das
necessidades elementares da sociedade grega – na saúde, na educação, nas
infraestruturas, nos serviços públicos, nos desempregados, nas crianças
esfomeadas, nas famílias monoparentais, nas mulheres que são agora
obrigadas a assumir gratuitamente e em família todas as tarefas
assumidas pelos serviços públicos antes do seu desmantelamento e
privatização – as quantias astronómicas consagradas ao serviço da dívida
pública.
Por quanto tempo? Pelo tempo que for necessário
para realizar uma auditoria cidadã da dívida, a fim de identificar a
sua parte ilegítima, a qual deve ser anulada e não reembolsada.”