Quinta, 12 de abril de 2012
Do Estadão Escutas indicam que Delta articulava facilidades em contratos e nomeações; empresa nega
Alana Rizzo e Fábio Fabrini, de O Estado de S. Paulo
Maior empreiteira do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), a Delta Construções S.A. teria negociado
facilidades em contratos diretamente com a cúpula do Governo do Distrito
Federal (GDF), em troca de favores de campanha eleitoral, como indicam
grampos da Polícia Federal.
Em conversas gravadas na Operação Monte Carlo, aliados do
contraventor Carlinhos Cachoeira - acusado de comandar uma rede de jogos
ilegais no País - revelam que a diretoria da empresa no Rio “cobrava a
fatura” de doações eleitorais ao pressionar o Palácio do Buriti por
nomeações e a liberação de verbas.
Em 2010, a Delta consta como doadora de R$ 2,3 milhões apenas a
comitês partidários no País. Do total, R$ 1,1 milhão foi destinado ao
Comitê Nacional do PT e o restante ao PMDB. Não consta na prestação de
contas do governador do Distrito Federal eleito, Agnelo Queiroz (PT), ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) doação da construtura.
Com Agnelo eleito, segundo a PF, a Delta tentava emplacar aliados em
cargos-chave de administrações regionais e do Serviço de Limpeza Urbana
(SLU) de Brasília, o que facilitaria seus negócios. Além disso, tentava
receber débitos do GDF por serviços supostamente prestados.
Segundo revelam os grampos, o então diretor da empresa no
Centro-Oeste, Cláudio Abreu, enfrentava dificuldades para atingir seus
interesses, ao que os diretores da Delta no Rio tiveram de tomar as
rédeas. “Como ele (Cláudio) tá no ‘pé da goiaba’ e a chefia do Rio é que
ficou na negociação de campanha, as autoridades do Rio que mexeram,
vieram e cobraram a fatura”, relatou num telefonema o araponga Idalberto
Matias, o Dadá, aliado de Cachoeira, ao ex-assessor especial da Casa
Militar do GDF Marcelo Lopes, o Marcelão, que aguardava para conversar
com o chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro.
A conversa foi interceptada pela PF em 31 de março de 2011, dia em
que Monteiro foi nomeado para o cargo. “O Cláudio não participou da
negociação da campanha. Quem participou da campanha foi os ‘picas’ (sic)
do Rio e os ‘picas’ do Rio estão dizendo que o Cláudio não tá dando
conta de resolver o problema”, acrescenta Dadá ao interlocutor. Dadá diz
a Lopes que Monteiro precisa entender que Abreu, da Delta, tem chefe.
“Em cima dele, tem uma porrada de gente.”
Reunião. Emissários da Delta no Rio teriam vindo a Brasília em 31 de março de 2011 conversar com representantes do GDF.
Num diálogo, Dadá conversa com um funcionário da empreiteira
identificado como Andrezinho. Possivelmente, trata-se de André Teixeira
Jorge, motorista do engenheiro Cláudio Abreu.
Nos diálogos, o araponga explica que Cláudio Abreu está “sem moral”
com o governo e que, diante disso, caberia aos seus superiores acionar o
“01”. Segundo a PF, “01” era o tratamento dado pela quadrilha ao
governador Agnelo. Na mesma ligação, os dois contam que a lista de
nomeações no GDF seria levada ao secretário de Governo, Paulo Tadeu
(PT).
Dias depois, a Delta conseguiu liberar o pagamento de faturas. Na
mesma data, o SLU emitiu nota de empenho de R$ 2,8 milhões em favor da
Delta, paga na segunda-feira seguinte.
Ao longo do ano, a Delta recebeu R$ 92 milhões do GDF, em faturas não
raro negociadas pela organização de Cachoeira nos bastidores, como
mostram os grampos. Os diálogos sugerem ainda uma relação de proximidade
entre Cachoeira e o dono da Delta, Fernando Cavendish. Leia mais