Terça, 10 de abril de 2012
Carlos Newton
É impressionante como um homem como Carlinhos Cachoeira tenha
conseguido se infiltrar em diferentes órgãos públicos federais e
estaduais. Sabe-se que ele até interferia nas promoções na Polícia
Militar de Goiás. E agora é o Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) que se vê obrigado a afastar o superintendente do
órgão no Distrito Federal, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, suspeito de
envolvimento em tráfico de influências com o surpreendente
empresário-bicheiro de Goiás.
Devido à Semana Santa, a decisão, tomada na última quinta-feira, só
foi publicada ontem no Diário Oficial da União. Rocha foi afastado do
cargo por 30 dias, e será substituído temporariamente por Luis Fernando
de Souza.
O Incra já havia anunciado que afastaria servidores que ocupavam
cargos de chefia na superintendência do DF, “permitindo, assim, que as
investigações transcorram de maneira isenta”, porque gravações
realizadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça durante a
Operação Monte Carlo revelaram que o grupo de Cachoeira, denunciado por
suspeita de comandar um esquema de exploração de jogos ilegais, negociou
propina no Incra com o objetivo de regularizar uma fazenda.
O relatório da Polícia Federal menciona valores e diz haver
envolvimento de Rocha com o grupo do empresário-bicheiro. O
superintendente afastado, no entanto, disse à Folha que nunca teve
reuniões com as pessoas citadas nos relatórios da Operação Monte Carlo.
Será?
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DECADÊNCIA MORAL
Traduzindo tudo isso: a existência de um personagem como Carlinhos
Cachoeira mostra a deterioração da política brasileira, na qual a
corrupção realmente passou a fazer parte da rotina administrativa, com
impunidade garantida.
O grau de surrealismo é tamanho que um homem sem escrúpulos como
Cachoeira consegue ser defendido por um ex-ministro da Justiça, Marcio
Thomaz Bastos. É certo que todo criminoso tem direito a defesa, mas quem
ocupa o cargo de ministro da Justiça deveria ser mas seletivo na
escolha de clientes.
Isso parece óbvio, mas quando lembramos que personalidades como Renan
Calheiros e Jarbas Passarinho foram ministros da Justiça, é realmente
desanimador.
Calheiros tem diploma de advogado, mas nunca exerceu a profissão,
pois se elegeu deputado estadual quando ainda nem tinha se formado. Já
Passarinho, coronel do Exército, foi ministro e seu maior feito foi a
portaria criando a nação Ianomami, um território do tamanha da Itália,
onde vivem apenas 4 mil índios.
E o notório saber? Serve para quê mesmo?
Fonte: Tribuna na Internet