Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O caso do DEM

Segunda, 9 de abril de 2012
Por Ivan de Carvalho
Certamente o DEM não está com sorte. A falta de sorte começou lá atrás, em 1998, quando o partido, ainda PFL, era razoavelmente forte e tinha sua principal base na Bahia, estado em que então desfrutava de verdadeira hegemonia política. Mas tinha núcleos importantes em vários outros Estados, notadamente na região Nordeste, mas também no Rio de Janeiro, Santa Catarina, além de outros, incluindo um núcleo em construção em São Paulo. Foi então que em 21 de abril daquele ano morreu de fulminante infarto do miocárdio o deputado Luís Eduardo Magalhães.

Luís Eduardo era o que de principal o partido estava preparando para o futuro. Aos 43 anos, já havia sido deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa da Bahia, deputado federal, líder do PFL na Câmara dos Deputados, presidente desta Casa do Congresso Nacional e quando morreu era líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara e candidato já anunciado do PFL e aliados ao governo da Bahia. Sua eleição, ressalvado acidente de percurso da ordem do que ocorreu (outros menores não mudariam o destino), era certa.

Quase certa era também sua candidatura a presidente da República após cumprir o mandato (o projeto é de que fosse apenas um). Com mais de quatro anos de antecedência, Luís Eduardo vencia certas implicâncias do pai, Antonio Carlos Magalhães, e lançava cabeças de ponte no então maior partido do país, o PMDB, enquanto se relacionava bem com todo o espectro de forças políticas do país. Prova disso é que contou com os votos de todos a decisão do Congresso que deu seu nome ao Aeroporto Internacional de Salvador, então chamado de 2 de Julho, depois de haver dele sido apagado o nome de Aeródromo e de Aeroporto de Santo Amaro do Ipitanga, vulgo Aeroporto do Ipitanga. Não creio que o santo haja se irritado. Afinal, é santo.

Mas a partir da morte de Luís Eduardo o PFL, depois DEM, somente sofreu revezes. ACM cometeu uma indiscrição voltada contra o presidente FHC em uma visita ao Ministério Público Federal, em Brasília, visita aconselhada por seu assessor Fernando César Mesquita, herdado de Sarney. Foi um desastre, um procurador petista gravou a conversa, isso valeu o rompimento de FHC com ACM. Veio o aflitivo caso da violação do segredo do painel de votação do Senado, atingindo o senador tucano José Roberto Arruda, líder do governo na Câmara Alta e o senador ACM, presidente do Senado. ACM renunciou ao mandato de senador – assim como Arruda –, mas o reconquistaria nas urnas em seguida.

Em 2006, o bastião baiano do PFL caiu, com a eleição do petista Jaques Wagner para governador. E neste mesmo ano, que inferno, o ex-tucano José Roberto Arruda elegeu-se governador do Distrito Federal pelo DEM, que não devia tê-lo aceito. Foi o único governador eleito pelo DEM em 2006, mas, sendo quem era, fez malfeito, foi denunciado, expulso do partido, preso, perdeu o mandato, cobriu a legenda de vergonha. Então, em 2010, o DEM elegeu dois governadores, do Rio Grande do Norte e de Santa Catarina. O de Santa Catarina, Raimundo Colombo, saltou para o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que obviamente também abandonou o DEM, junto com o vice-governador paulista Afif Domingos.

Ah, mas nem tudo parecia perdido. ACM Neto vai se saindo bem na Câmara dos Deputados e, no Senado, Demóstenes Torres encarna a alma da extinta e gloriosa UDN. Competente, preparado, faz uma oposição eficaz. Engana a todos – seu próprio partido, os colegas em geral, os outros partidos. Cresce e já despontava, nas especulações, como uma alternativa do DEM para as eleições presidenciais de 2014.

Foi aí que escorregou na cachoeira. Em ano de eleições, como planejado pela Polícia Federal. E sob escutas de exceção, como já ameaça se tornar regra.
Pobre DEM. Virou a Geni da República. E não se diga que é pior que os outros. Não é.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano