Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O DEM em Salvador

Segunda, 23 de abril de 2012 
Por Ivan de Carvalho
O Democratas promove hoje, às 15 horas, em um hotel de Salvador, evento para o qual existe a expectativa de estarem presentes os 27 integrantes de sua bancada na Câmara dos Deputados e toda a executiva nacional, presidida pelo senador João Agripino.

            Infelizmente para o DEM, o evento ocorre pouco depois de o senador Demóstenes Torres – figura mais combativa e competente do partido e até mesmo do conjunto das oposições no Senado, especialmente quando em causa a cobrança de obediência a princípios éticos por parte do governo – haver sido objeto de fortes denúncias de que fazia o que condenava no adversário.

            Isso evidentemente prejudica o DEM e tem algum reflexo no evento de hoje em Salvador. Mas cabe aqui uma consideração: o Democratas, já em dois casos de grande repercussão nacional, adotou providências imediatas e duras contra seus integrantes envolvidos em “malfeitos” – palavra com a qual a presidente Dilma Rousseff prefere qualificar os atos de corrupção, quando ocorrem em seu governo.

            Assim foi que ficamos cientes, os cidadãos deste país, que “malfeitos” são um eufemismo para atos de corrupção, quando antes o termo tinha sentido muito mais amplo, pois tanto poderia ser ato de corrupção como uma cadeira desconfortável (e não estou falando das elétricas, às quais me oponho) ou como um bolo que desandou. Atos de corrupção passaram a ser “malfeitos” assim com mensalão passou a ser Caixa Dois de campanha eleitoral. Mas, vida que segue.

            Repondo o foco no DEM. Não devia – e afirmei isto neste espaço há poucos dias – ter aceito em seus quadros o já testado no PSDB e reprovado José Roberto Arruda. Mas aceitou e o gajo foi eleito governador do Distrito Federal. Aí, envolveu-se em “malfeitos”. Denunciado, provada a denúncia, o DEM, sob ameaça de expulsão sumária e imediata, forçou sua desfiliação do partido, em dezembro de 2009, e, evidentemente, se ele já não tinha condições políticas de ser candidato à reeleição, passou também a não ter condições de ser candidato a qualquer coisa nas eleições de 2010.

            Agora, ao ver envolvido o senador Demóstenes Torres na Operação Monte Carlo que apanhou o empresário e bicheiro Carlinhos Cachoeira, o DEM se aprestou a expulsá-lo da legenda, o que funcionou como uma ordem para que se desligasse dela “voluntariamente”. Foi o que fez o senador, que agora enfrentará o Conselho de Ética do Senado e o Judiciário.

            Nos dois rumorosos episódios, o DEM não vacilou em cortar na própria carne e isto seria o normal e a rotina em muitos outros países. Mas não neste, onde um ex-presidente compromete-se com um graduadíssimo ex-auxiliar a “desmontar a farsa do Mensalão”. Quando no cargo, reconhecera os malfeitos. E defendeu-se alegando que não sabia de nada (apesar de ter sido avisado por Marconi Perillo e, depois, Roberto Jefferson). Em um país assim, a implacável autodefesa do DEM é digna de reconhecimento e elogio, pois bem superior ao cinismo que outros partidos (não é somente um) adotam. Pelo menos o DEM pode dizer: “Se o lixo é descoberto, nós o queimamos”. Melhor que encharcar o lixo de desodorante.

           Bem, a partir de hoje, a candidatura a prefeito de Salvador do líder do DEM na Câmara federal, ACM Neto, fica partidariamente assentada. Não por um ato solene, para não impor-lhe o selo de oficial ainda. Há a intenção de manter, até a convenção, o discurso da articulação visando coalizão e, inclusive, unidade. Mas a “pré-candidatura” ganha status de partidária e prioridade nacional do DEM.
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Este artigo foi publicado na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.