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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A PF e o bode expiatório

Quarta, 11 de abril de 2012
Por Ivan de Carvalho
Não pretendo defender nem acusar o deputado Roberto Carlos, alvo da Operação Detalhes da Polícia Federal. A defesa fica por conta do advogado dele e a acusação, do Ministério Público, se julgar que há efetivamente crime ou crimes, entre as suspeitas que sobre ele lançou a Polícia Federal e que existem provas para o oferecimento de denúncia.

Por enquanto, o que se tem é uma operação de busca e apreensão da PF no gabinete do deputado Roberto Carlos, do PDT, 1º secretário da Assembleia Legislativa da Bahia e candidato de seu partido a prefeito de um dos principais municípios baianos, Juazeiro, onde o PT estadual apoia o candidato do PCdoB, que é prefeito e busca a reeleição, e o PT local liderado pelo ex-prefeito e deputado Joseph Bandeira insubordinou-se inutilmente, pois teve que render-se ao comando estadual.
 
Ainda um outro detalhe da biografia política de Roberto Carlos é que ele é um dos deputados mais estimados pelos seus colegas de Assembleia. Isso é absolutamente notório e teve consequências políticas. Roberto Carlos era 1º secretário da Assembleia nos dois últimos anos da Legislatura passada.

Ao iniciar-se esta Legislatura e tendo se afirmado, mais uma vez, a candidatura de Marcelo Nilo à reeleição para a presidência, os demais membros da Mesa Diretora anterior cederam seus lugares a colegas.
 
Não encontrando espaço político para conquistar a presidência na ocasião, o PT ambicionava a 1ª Secretaria, segundo cargo em importância. Mas Roberto Carlos avisou que, se surgisse um candidato oficial na chapa, ele disputaria o cargo como “candidato avulso”.

Diante disso, o PT, mesmo tendo a maior bancada na Assembléia, desistiu da 1ª Secretaria, porque no voto secreto sabia que perderia, dada a amizade de Roberto Carlos com seus colegas. O PT ficou então com outro cargo na Mesa.
 
Mas, afinal, qual o misterioso detalhe que levou a Polícia Federal a fazer pontaria no deputado Roberto Carlos? Porque ele foi pinçado entre tantos para ser investigado? Fez-se constar, em algum momento, que a causa fatídica teria sido uma comunicação do COAF – certamente à Receita Federal – sobre movimentação financeira atípica. Até pode ser.

Mas se o COAF faz comunicações idênticas em situações semelhantes, seguramente estará fazendo continuamente centenas e até milhares de comunicações sobre outros parlamentares, deputados federais e estaduais e vereadores por todo esse país. Roberto Carlos, vale insistir, é apenas um detalhe.
 
Muito mais importante do que saber por que ele é certamente saber por que só ele.
Pode crer o leitor que, se a Polícia Federal fosse investigar todos os casos similares no país, ela não teria tempo para mais nada. Ou talvez o Congresso Nacional, por sólida maioria – não por unanimidade – aprovaria lei extinguindo a Polícia Federal e estabelecendo a incomunicabilidade do COAF.
 
Não estou contra a investigação. Estou contra que, por motivos misteriosos, secretos, seja pinçado um bode expiatório.
 
Se a PF está a fim de investigar, que investigue o rebanho todo. Seja séria.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.